O início do ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos voltou a colocar o mercado brasileiro sob os holofotes. Estudos da XP Investimentos e do Bank of America apontam que, historicamente, quedas na taxa básica americana abrem caminho para fortes valorizações do Ibovespa, atraindo maior fluxo de capital estrangeiro para a Bolsa.
Na última quarta-feira (17), o Federal Reserve (Fed) reduziu os juros pela primeira vez em 2025. O movimento tem peso relevante: nas oito ocasiões anteriores em que o banco central americano iniciou cortes, a Bolsa brasileira registrou um retorno médio de 32,1% nos 12 meses seguintes. Quando se considera o desempenho em dólar, o ganho chega a 41,2%.
Segundo os estrategistas Fernando Ferreira, Raphael Figueredo, Felipe Veiga e Lucas Rosa, da XP, há padrões interessantes nesse comportamento. Eles destacam que, antes da decisão, setores como papel e celulose, petróleo, minério e siderurgia tendem a ficar atrás do Ibovespa, mas se recuperam nos meses seguintes. Ações como Klabin (KLBN11), Irani (RANI3) e Suzano (SUZB3) caem em média 11% contra o índice três meses antes da decisão do Fed, mas conseguem retomar ganhos de 1,7% acima do Ibovespa seis meses depois.
A explicação está no peso das commodities no ETF MSCI Brazil, listado em Nova York pela BlackRock, que concentra boa parte dos investimentos estrangeiros no país. Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4) são exemplos de empresas que costumam liderar essa recuperação.
Além das commodities, empresas com alto endividamento também devem se beneficiar, avalia Phil Soares, chefe de pesquisa da Options&Co. Ele cita a Cosan (CSAN3) como exemplo de companhia que pode ganhar fôlego para rolar dívidas em um cenário de juros mais baixos. Entre as recomendações, também estão Banco Inter (INBR32), listado em Nova York, e Cyrela (CYRE3), pelo potencial de recuperação do setor de construção civil.
O corte de juros nos EUA também estimula setores voltados ao consumo. Para Lucas Sucena, sócio da Okus Capital, as varejistas tendem a reagir positivamente à queda dos juros internos, que reduzem custos de financiamento e incentivam a demanda. Já os bancos ganham com o aumento do crédito, ampliando a atividade financeira.
O efeito, porém, não se restringe ao Brasil. Leonardo Otero, fundador da Arbor Capital, lembra que as grandes empresas americanas também surfam o movimento. As chamadas “Sete Magníficas” — bloco que inclui Microsoft, Apple e Alphabet (Google) —, além de bancos e financeiras dos EUA, como a gestora Brookfield (B1AM34), podem registrar valorização significativa. “Estamos especialmente animados com Microsoft (MSFT34) e Amazon (AMZN34)”, afirma.
Assim, em meio à desaceleração global e à busca por oportunidades de rendimento, os cortes do Fed não apenas reforçam a atratividade da Bolsa brasileira, mas também ampliam as possibilidades para investidores que miram tanto ativos locais quanto internacionais.