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Investidores migram para Tesouro IPCA+ diante da expectativa de queda da Selic

Com a previsão de cortes de juros a partir de 2026, gestores aumentam a exposição em Tesouro IPCA+ e prefixados

A carteira de investimentos em renda fixa passa por um momento de transição que exige atenção dos investidores. Hoje, títulos indexados a 100% do CDI, como o Tesouro Selic, ainda oferecem retorno de 14,90% ao ano. No entanto, a expectativa de queda dos juros a partir de 2026 tende a reduzir essa remuneração. Ao mesmo tempo, leituras mais fracas da inflação diminuem a atratividade de papéis atrelados ao IPCA, como o Tesouro IPCA+. Apesar disso, gestores profissionais têm ampliado a exposição a esses títulos, migrando gradualmente as carteiras de clientes para capturar possíveis ganhos diante do movimento futuro da política monetária.

Para os especialistas, a chave da estratégia é o prazo. A recomendação é que investidores estendam a duração dos títulos na carteira, desde que estejam dispostos a enfrentar a volatilidade típica dos prefixados ou dos indexados ao IPCA+. Isso porque, segundo projeções, o CDI deve cair dos atuais 14,90% ao ano para 12,40% em 2026, acompanhando a Selic estimada em 12,50% no Focus. Esse movimento já começa a se refletir nos índices. O IMA-B, que mede títulos prefixados da Anbima com prazo superior a um ano, sobe 14,75% no ano, superando o Tesouro Selic, que avança 9,20%. No recorte de 12 meses, porém, o quadro se inverte: o Selic rende 13,11% e o prefixado 10%.

O desempenho mostra que o mercado vem se antecipando aos cortes de juros para buscar alternativas dentro da renda fixa. Segundo Marcelo Mattos, diretor de gestão de crédito privado do Banco Inter, quem demora para ajustar a carteira acaba deixando para trás retornos mais atrativos. O prefixado, por exemplo, pode trazer maior rentabilidade, mas também envolve risco elevado. O investidor garante a taxa contratada no momento da compra, o que só se torna vantajoso se os juros caírem abaixo desse patamar. Caso o Banco Central reduza a Selic enquanto a inflação subir, há chance de perda para quem estiver posicionado. Por outro lado, se a autoridade monetária for firme na meta e os juros recuarem de forma consistente, o ganho pode ser relevante.

Na prática, essa lógica vale não só para os papéis do Tesouro, mas também para CDBs, debêntures e outros ativos prefixados. Por isso, várias gestoras têm alterado as carteiras de renda fixa para aproveitar a janela antes da queda efetiva da Selic. No Banco Inter, fundos conservadores passaram a alocar até 10% em Tesouro IPCA+, ante zero no início do ano. Já nas carteiras mais arrojadas, essa fatia pode chegar a 70%.

Apesar dessa migração, os títulos indexados à inflação ainda estão abaixo do CDI em 2025. O índice IMAB-5, que reflete papéis IPCA+ de até cinco anos, acumula alta de 6,35% no ano, bem abaixo da taxa básica. Ainda assim, Mattos avalia que não é sustentável manter juros reais próximos de 10% ao ano. A diretora de distribuição da gestora Sparta, Natália Coura, concorda e lembra que ativos de inflação podem ter meses negativos, mas tendem a se recuperar quando a Selic começar a cair. Segundo ela, a taxa média de retorno do IPCA+, atualmente em 2,4%, pode subir para 5% novamente, o que equivaleria a comprar uma ação em baixa. Por isso, a gestora recomenda que ao menos 20% da carteira esteja alocada em ativos indexados à inflação.

A proporção ideal, no entanto, depende do perfil do investidor. Coura não recomenda a migração para quem busca retornos rápidos em prazos curtos, inferiores a cinco meses, sugerindo que apenas a partir de 12 meses faça sentido avaliar uma composição maior em IPCA+ e prefixados. No quesito prazo, há divergências: enquanto a Sparta recomenda ativos de 6 a 7 anos, o Banco Inter já considera viável a partir de 4 anos.

Para os investidores de curto prazo, a recomendação é buscar alternativas dentro do CDI. Alexandre Freitas, diretor-executivo da Oliveira Trust, sugere priorizar papéis que paguem uma taxa fixa acrescida do CDI, e não apenas um percentual da taxa. Ele explica que, em ciclos de queda de juros, travar parte da remuneração pode fazer diferença no resultado final. “Um CDB que rende 120% do CDI não vale o mesmo que um CDI + 1,20% quando a Selic está em queda”, afirma. Dessa forma, mesmo em um cenário de juros menores, o investidor consegue preservar uma parcela fixa da rentabilidade.

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