A crise financeira dos Correios chegou a um ponto crítico e deve obrigar o governo federal a decidir entre socorrer a estatal ou deixá-la à beira do colapso. A nova direção da empresa calcula que será necessário um aporte de R$ 2 bilhões em 2025 e de R$ 5 bilhões em 2026 para reequilibrar o caixa e garantir capacidade de honrar um empréstimo em negociação com bancos.
O tema voltou à mesa com a nomeação de Emmanoel Schmidt Rondon para a presidência da estatal, em substituição a Fabiano Silva dos Santos, que havia deixado o cargo no início de julho. A escolha foi aprovada pelo Conselho de Administração e reforçou a expectativa de que a mudança sensibilize a Fazenda para a necessidade de medidas emergenciais.
Segundo fontes próximas à empresa, a estratégia da nova gestão é insistir junto à equipe econômica que sem injeção de recursos será impossível reerguer os Correios. Apesar disso, interlocutores do ministro Fernando Haddad defendem cautela. O argumento é que, caso a estatal seja considerada dependente do Tesouro, todos os seus gastos anuais, estimados em R$ 20 bilhões, teriam de ser incluídos no Orçamento da União, comprimindo ainda mais o espaço para outras políticas públicas.
O dilema se intensifica com a deterioração das contas. Apenas no primeiro semestre, os Correios registraram prejuízo de R$ 4,37 bilhões, mais que o triplo das perdas de R$ 1,35 bilhão no mesmo período de 2024. A crise levou a atrasos no pagamento de fornecedores, prestadores de serviços e até no fundo de pensão da categoria. Segundo dirigentes, a folha salarial só tem sido paga em dia porque outras obrigações são postergadas.
Na avaliação de aliados de Haddad, uma solução sustentável passa por repensar a obrigação de universalização do serviço postal, considerada deficitária e responsável por consumir boa parte dos resultados da estatal. Em um cenário cada vez mais digital, a Fazenda avalia se é possível dividir essa obrigação com outros agentes privados, transformando os Correios em um participante entre vários, e não mais no único responsável pela entrega em todo o território nacional.
A discussão, no entanto, está longe de um consenso. Enquanto uma ala do governo defende um plano de socorro imediato, outra aponta que antes é preciso trocar a gestão e adotar medidas de curto prazo para conter perdas. A avaliação é que a equipe anterior não entregou os resultados esperados, o que pressiona a nova presidência a apresentar soluções rápidas.
Durante o governo Jair Bolsonaro, os Correios chegaram a ser preparados para privatização. A gestão Lula abandonou o plano, mas a empresa continuou acumulando prejuízos crescentes. Hoje, a estatal lida com forte queda de receita, perda de competitividade para empresas privadas de logística e a pressão de um passivo que não para de aumentar.
Com os números no vermelho, atrasos generalizados e pressão política crescente, a sobrevivência dos Correios dependerá de uma decisão urgente do governo: ou o Tesouro injeta bilhões de reais nos próximos dois anos, ou a estatal corre o risco de não conseguir se sustentar sozinha.