Os diretores do Banco Central (BC) reforçaram, em reunião com economistas de mercado realizada na sexta-feira (26), a atenção aos sinais da economia real, mas não afastaram a percepção de que o primeiro corte na taxa Selic deve ocorrer apenas em 2026. De acordo com participantes dos encontros, ouvidos em condição de anonimato, houve praticamente um consenso de que a redução dos juros só deve acontecer entre março e abril do próximo ano, descartando cortes ainda em janeiro.
Segundo relatos, os diretores do BC mostraram-se especialmente sensíveis ao impacto do atual nível de juros sobre o crédito e sobre a atividade. Os economistas presentes destacaram que há uma clara desaceleração da economia, resultado direto da política monetária restritiva. Nesse contexto, a autoridade monetária teria dado mais atenção a análises relacionadas ao desempenho do mercado de crédito, às dificuldades operacionais geradas pelos juros elevados e à possibilidade de que a economia real esteja menos aquecida do que os indicadores sugerem.
Um dos pontos que despertaram maior interesse foram dois estudos incluídos no Relatório de Política Monetária (RPM) do terceiro trimestre. O primeiro mostrou que o programa de crédito consignado do governo não foi suficiente para reduzir o nível de endividamento das famílias. O segundo apontou para a elevação da taxa de inadimplência dos bancos, o que reforça a preocupação com a saúde financeira dos consumidores e com a qualidade da carteira de crédito.
Apesar dessa preocupação, os economistas avaliaram que o cenário mais provável segue sendo de manutenção da Selic em patamar elevado por mais alguns trimestres. A leitura predominante é de que o Comitê de Política Monetária (Copom) “cristalizou” a visão de que os cortes devem acontecer apenas no ano que vem, e não na primeira reunião de 2026. Apenas um participante mencionou a possibilidade de redução em janeiro, mas já com viés de adiamento.
O debate também incluiu os riscos de uma política fiscal mais expansionista em ano de eleição presidencial. Com a proximidade de 2026, economistas ponderaram que um aumento de gastos pelo governo poderia sustentar a atividade no curto prazo, mas dificultar o trabalho do BC para trazer a inflação de volta à meta de 3%. A percepção é de que o “apetite” do governo por estímulos pode gerar ruídos no mercado e atrasar a flexibilização da política monetária.
No cenário externo, as incertezas giraram em torno da condução da política monetária pelo Federal Reserve (Fed). Houve preocupação de que o banco central americano esteja excessivamente focado no enfraquecimento do mercado de trabalho, em um momento em que o presidente Donald Trump pressiona por cortes de juros. Nesse ambiente, a expectativa majoritária é de depreciação global do dólar, mas com efeitos ainda incertos sobre o real, diante da combinação de dúvidas fiscais internas e do calendário eleitoral.