Mesmo em um cenário pouco otimista para a economia brasileira, os títulos do Tesouro IPCA+ continuam a apresentar um potencial de valorização relevante. Apenas o retorno à média histórica dos juros reais, caindo dos atuais 7,45% para 6%, poderia gerar ganhos de até 22% no papel com vencimento em 2035, segundo Luigi Wis, especialista em investimentos da Genial. Para ele, esse ganho não depende de otimismo exagerado, mas sim de uma volta à normalidade. “Se as taxas do Tesouro voltarem ao que foi a média dos últimos 10, 15 anos, algo entre 5,5% e 6%, é factível capturar um upside interessante”, afirma.
Se essa valorização de 22% ocorrer em um período de 12 meses, equivaleria a um retorno de 150% do CDI, atrativo para investidores que optarem por realizar lucro com a venda antecipada. Papéis de vencimento mais longos, como IPCA+ 2040 e 2050, carregam ainda mais potencial, mas também trazem riscos maiores devido à duration, métrica que mede a sensibilidade do título às oscilações da taxa de juros. Quanto maior o prazo, maior a volatilidade.
Nesse ponto, Rodolfo Viola, especialista em renda fixa da Ágora, lembra que o Tesouro IPCA+ só é efetivamente renda fixa se levado até o vencimento. Antes disso, pode oscilar tanto quanto ações na Bolsa e até gerar prejuízo se for resgatado em momento desfavorável. Ele cita o conceito de Value at Risk (VaR) para reforçar que NTN-Bs longas podem ter volatilidade semelhante à de ativos de renda variável. Viola destaca dois riscos principais: o de crédito, já que o investidor se torna credor do governo federal, e o de mercado, ligado à variação do preço do título conforme as condições econômicas.
Ainda assim, Luigi Wis aponta que os papéis com vencimento em 2035 têm o melhor equilíbrio de risco e retorno. Atualmente, o título paga IPCA + 7,41% ao ano, com preço unitário de R$ 2.294. Se os juros caírem e o rendimento cair para IPCA + 6%, o preço saltaria para R$ 2.758, garantindo um ganho de mais de 22% para quem vendê-lo. Ele ressalta que, em um cenário negativo, dificilmente esse papel entregará rentabilidade negativa no curto prazo, ao contrário da Bolsa, que pode registrar quedas expressivas em cenários adversos.
O grande desafio, no entanto, continua sendo o cenário fiscal. O Brasil vive incertezas quanto ao controle das contas públicas, sobretudo após 2027, quando novas pressões sobre os gastos deverão surgir. Esse risco é um dos motivos pelos quais o Boletim Focus do Banco Central projeta juros reais ainda acima de 6% ao final de 2028, com IPCA em 3,7% e Selic em 10%. Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, avalia que apostar na queda dos juros de longo prazo exige convicção. “Mesmo que o Focus mostre projeções de juros reais acima de 6% em 2028, isso não é garantia. É um cenário de risco, mas não irracional”, pontua.
Para Wis, entretanto, há espaço para otimismo. Ele acredita que fatores externos podem abrir caminho para cortes de juros no Brasil a partir de 2026, com dólar mais fraco diante da política comercial de Donald Trump e redução das taxas nos Estados Unidos. Além disso, a percepção de alternância de poder em 2026, com possível governo mais comprometido com ajuste fiscal, poderia criar um “combo muito potente” para acelerar a queda dos juros, levando a taxas reais até abaixo de 6%, podendo chegar a 5,5% ou até 5%.
Viola, por sua vez, reforça que o potencial de ganho em NTN-Bs longas é significativo, mas ressalta que elas devem ser vistas como complemento a uma carteira diversificada. “Bolsa e Tesouro IPCA+ são classes distintas, com características próprias. Diversificar entre as duas pode manter um potencial de retorno atrativo, com risco global menor do que escolher apenas uma delas”, diz.
Patzlaff complementa que a aposta no Tesouro IPCA+ é mais segura em relação a ativos de maior risco, mas depende da disposição do investidor em conviver com volatilidade. “A Bolsa tem outro tipo de risco, mas também outro tipo de retorno possível. Empresas podem crescer, lucros podem surpreender, reformas podem ajudar ou atrapalhar.” Em sua visão, o Tesouro IPCA+ 2035 é o papel mais equilibrado neste momento, capaz de proteger em cenários negativos e oferecer ganhos expressivos caso os juros caiam.