Destaque
DestaqueEconomiaNotícias

Alimentos voltam a pressionar inflação no fim do ano e devem subir até 3,22% no trimestre

Alta do dólar, sazonalidade e demanda aquecida com 13º salário devem elevar preços de proteínas, café e frutas até dezembro

Depois de quatro meses consecutivos de alívio nos preços dos alimentos, o consumidor brasileiro deve voltar a sentir o peso da inflação no carrinho de compras no último trimestre de 2025. Especialistas projetam um novo ciclo de altas no grupo “alimentação no domicílio” entre outubro e dezembro, interrompendo a sequência de deflação observada desde junho e recolocando a comida no centro das pressões inflacionárias.

O movimento, embora não represente risco de descontrole do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no fechamento do ano, vai reduzir o fôlego conquistado nos últimos meses. O Boletim Focus do Banco Central projeta que a inflação encerre 2025 em 4,72%, ligeiramente acima do teto da meta, de 4,5%. Nesse cenário, a alta dos alimentos deve ser um dos principais fatores de desconforto para as famílias, sobretudo nos preços das proteínas, frutas, legumes e café.

Economistas atribuem a virada a uma combinação de fatores sazonais e macroeconômicos. Tradicionalmente, o último trimestre do ano registra maior demanda por alimentos devido ao pagamento do 13º salário, o que aumenta a disposição do consumidor a aceitar reajustes. Além disso, a recente alta das cotações agropecuárias no atacado — que subiram 1,53% em agosto e 1,89% em setembro, segundo a FGV — deve ser repassada gradualmente ao varejo. Em setembro, a alimentação no domicílio ainda registrou queda de 0,41% no IPCA, a quarta consecutiva, mas o ciclo de baixa está perto do fim.

A consultoria 4Intelligence projeta que os preços nesse segmento avancem 0,60% em outubro, 0,85% em novembro e 1% em dezembro, acumulando alta de 3,22% no trimestre — o segundo maior aumento dos últimos cinco anos. O resultado deve superar a média histórica de 2,40% entre 2011 e 2024, embora fique abaixo do pico de 4,26% observado no mesmo período do ano passado, quando a estiagem reduziu a oferta de alimentos.

As principais pressões devem vir de tubérculos, raízes e legumes, com alta prevista de 10,80%, seguidos por hortaliças e verduras (4,64%), frutas (5,44%), carnes (5,38%), aves e ovos (4,96%) e bebidas e infusões, como café (4,61%). A carne bovina tende a ser o destaque da cesta, ainda impactada pelo ciclo de baixa da pecuária, enquanto os estoques globais reduzidos e a oferta limitada devem sustentar o avanço dos preços do café.

O câmbio também entra na lista de fatores de risco para a inflação dos alimentos. A expectativa de que as incertezas externas se dissipem e fortaleçam o dólar pode elevar os preços domésticos, já que as commodities agrícolas são cotadas na moeda americana. Segundo a economista Marcela Kawauti, da Lifetime Gestora, boa parte do impacto cambial já foi absorvida, mas a tendência de valorização do dólar ao longo de 2026 deve trazer novos repasses.

Apesar da pressão esperada no curto prazo, a avaliação dos analistas é que o impacto será menor que em 2024, quando fatores climáticos pesaram com mais força. A oferta maior de produtos e a ausência de choques severos devem permitir que a inflação acumulada de alimentos desacelere em 12 meses, contribuindo para manter o IPCA dentro de patamares controlados. Ainda assim, o aumento dos preços terá efeito mais severo sobre as famílias de baixa renda, já que o gasto com alimentação representa a maior fatia do orçamento doméstico.

A consultoria 4Intelligence estima que a inflação dos alimentos feche 2025 com alta de cerca de 5%, acima do IPCA cheio projetado em 4,85%. Desde 2020, em apenas dois anos — 2021 e 2023 — o aumento dos preços da alimentação no domicílio ficou abaixo da inflação geral. No acumulado de 2020 a 2024, o custo com comida cresceu 55,8%, frente a uma alta geral de 33,4% no IPCA. Segundo o economista Fabio Romão, o alívio recente nos preços foi decisivo para evitar que as projeções ultrapassassem 5,5% no início do ano, mas a tendência de retomada da alta deve marcar o fim de 2025.

Postagens relacionadas

1 of 510