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Tesouro deve abrir exceção e ser fiador de empréstimo bilionário para salvar os Correios

Governo Lula negocia empréstimo bilionário com aval da União para recuperar os Correios, que acumulam prejuízo de R$ 4,37 bi em 2025

O governo federal se prepara para adotar uma medida incomum no esforço para socorrer os Correios. O Tesouro Nacional deve abrir uma exceção às regras habituais e atuar como fiador em um empréstimo de até R$ 20 bilhões que será articulado com bancos públicos e privados. A operação, que tem como objetivo recuperar o caixa e garantir a sobrevivência da estatal, marca a primeira vez desde o governo Dilma Rousseff que a União oferece esse tipo de garantia para uma empresa sem capacidade de pagamento suficiente para se credenciar ao aval.

A manobra não é trivial. A última flexibilização semelhante ocorreu no início da década passada, quando autorizações excepcionais permitiram que estados altamente endividados obtivessem crédito, operação que terminou com calotes e punições do TCU ao então ministro da Fazenda, Guido Mantega, e ao secretário do Tesouro, Arno Augustin. A garantia da União funciona como um seguro para os credores: em caso de inadimplência, o governo cobre os valores e depois busca ressarcimento, o que reduz o risco e facilita a negociação de condições mais favoráveis — como juros menores e prazos mais longos.

O novo presidente dos Correios, Emmanoel Schmidt Rondon, confirmou nesta quarta-feira (15) que o financiamento será amparado pelo Tesouro. Segundo ele, o aval é fundamental para reequilibrar a estatal. “A garantia da União traz a vantagem de uma operação com custo menor e prazo mais adequado, permitindo o reequilíbrio da empresa no médio e longo prazo”, afirmou. Pessoas envolvidas nas negociações apontam que o aval soberano foi condição essencial para viabilizar o plano, já que um empréstimo baseado apenas nas garantias da própria estatal seria impraticável diante do alto risco de inadimplência.

A participação de Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal deve ajudar a diluir riscos e reduzir custos, mas a operação também atraiu o interesse de instituições privadas como BTG Pactual, Citibank e ABC Brasil — credores de um financiamento anterior de R$ 1,8 bilhão obtido em 2024 sem garantia da União. Na ocasião, os Correios ofereceram receitas futuras como contragarantia e tiveram de aceitar condições rígidas, com pagamento em seis parcelas. Agora, com necessidade dez vezes maior de recursos, a presença do Tesouro é vista como essencial.

O plano de recuperação prevê medidas duras para conter despesas e reestruturar a companhia, incluindo um novo programa de demissão voluntária, venda de imóveis, renegociação de contratos e busca por novas fontes de receita. A estatal calcula precisar de R$ 10 bilhões em 2025 e mais R$ 10 bilhões em 2026 para financiar capital de giro e as ações de ajuste. A expectativa é que, com essas medidas, a empresa volte a registrar lucro em 2027.

As discussões sobre o resgate se intensificaram após a chegada de Rondon, funcionário de carreira do Banco do Brasil, ao comando da estatal. Sua indicação foi interpretada como um sinal de maior capacidade técnica para implementar o plano. A operação foi debatida em reunião no dia 9 entre os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Esther Dweck (Gestão), Frederico de Siqueira Filho (Comunicações) e representantes do Tesouro Nacional, da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional e dos bancos envolvidos.

A negociação, no entanto, enfrenta resistência política. O líder da oposição na Câmara, deputado Zucco (PL-RS), protocolou pedido para convocar Haddad a prestar esclarecimentos sobre a operação na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle. Também solicitou a criação de uma subcomissão especial para investigar a gestão dos Correios e não descarta propor a abertura de uma CPMI.

A pressão surge em meio a uma crise financeira sem precedentes. Os Correios registraram prejuízo de R$ 2,64 bilhões no segundo trimestre de 2025 — quase cinco vezes o resultado negativo do mesmo período de 2024 — e acumularam perdas de R$ 4,37 bilhões no primeiro semestre, triplicando o rombo registrado um ano antes. A expectativa do governo é que, com o aporte e as medidas de ajuste, a estatal consiga interromper a trajetória de deterioração e caminhar para a sustentabilidade financeira nos próximos anos.

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