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Juros altos freiam construção civil e retraem crédito habitacional, aponta Cbic

Com Selic em 15% e perda de recursos da poupança, o setor da construção vive o menor dinamismo desde 2020, segundo sondagem da Cbic e CNI

Após três anos de crescimento consecutivo, a construção civil brasileira começa a perder fôlego. A Confederação Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) revisou para baixo a projeção de expansão do setor em 2025, reduzindo-a de 2,3% para 1,3%. A entidade atribui a desaceleração à elevação das taxas de juros, que encarecem o crédito e desestimulam novos investimentos, mas ressalta que o ciclo positivo ainda não se encerrou.

De acordo com levantamento divulgado nesta segunda-feira (27), a alta dos juros foi apontada como principal obstáculo por 35% dos empresários consultados na Sondagem Indústria da Construção, realizada pela Cbic em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Apesar da desaceleração, o nível de atividade ainda permanece 23% acima do registrado no início da pandemia.

Nos nove primeiros meses de 2025, o índice médio de atividade do setor ficou em 47,2 pontos, o menor nível desde 2020. Já o Índice de Confiança, que mede as expectativas para os próximos meses, recuou para 48 pontos — sinal de que o otimismo entre os empresários vem diminuindo.

A política monetária restritiva tem sido o principal entrave há quatro trimestres consecutivos. A taxa Selic, que era de 10,50% em setembro de 2024, subiu para 15% em outubro de 2025, o maior patamar em quase duas décadas. O aumento encareceu o custo do crédito e reduziu a oferta de financiamento, especialmente nas linhas voltadas ao setor habitacional.

Os números do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) mostram uma queda expressiva nos financiamentos para construção. Entre janeiro e agosto, houve retração de 55,4% no número de unidades financiadas e de 53% em valores — de R$ 28,3 bilhões em 2024 para R$ 13,3 bilhões neste ano. A situação é agravada pela fuga de recursos da caderneta de poupança, que acumula captação líquida negativa de R$ 60 bilhões de janeiro a setembro.

Para Marcelo Azevedo, gerente de análise econômica da CNI, o cenário segue delicado. “Embora o pessimismo tenha diminuído, o ambiente macroeconômico ainda é amplamente desfavorável. O crédito está caro e escasso, e o ritmo de atividade segue enfraquecido”, afirmou.

Mesmo diante das dificuldades, a Cbic mantém uma perspectiva mais otimista para 2026, sustentada por dois fatores. O primeiro é a ampliação do teto do crédito habitacional com recursos do SBPE, que elevará o limite financiável de imóveis pelo SFH de R$ 1,5 milhão para R$ 2,25 milhões, com aumento do percentual financiado de 70% para 80% na Caixa Econômica Federal. A medida deve liberar cerca de R$ 37 bilhões em novos financiamentos no próximo ano.

O segundo impulso virá do programa Reforma Casa Brasil, lançado em outubro, que disponibiliza R$ 40 bilhões em crédito para reformas e ampliações residenciais. A expectativa é que a medida estimule o consumo de materiais de construção e impulsione a geração de empregos em toda a cadeia produtiva.

Ainda assim, os custos do setor continuam elevados. O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) acumulou alta de 6,8% nos 12 meses até setembro, pressionado principalmente pela valorização da mão de obra, que subiu 9,9% no mesmo período.

No mercado de trabalho, a construção civil continua sendo um dos principais motores da geração de empregos formais. Desde 2020, o setor criou 993 mil vagas com carteira assinada, atingindo 3,05 milhões de trabalhadores — número próximo ao recorde histórico de 2013. Entretanto, o ritmo vem diminuindo: entre janeiro e agosto de 2025, as contratações recuaram 9,4% em relação ao mesmo período do ano anterior.

A construção de edifícios segue como principal fonte de empregos, embora tenha registrado queda de 12,9% no ritmo de contratações. Já as obras de infraestrutura mostraram avanço de 18,8%, refletindo o investimento público em estradas e saneamento.

A falta de mão de obra qualificada também preocupa. Com o desemprego no menor nível desde 2012, empresas relatam dificuldades em contratar profissionais especializados. O salário médio de admissão no setor chegou a R$ 2.462,70 em agosto — 7,3% acima da média geral do mercado de trabalho brasileiro.

Apesar do freio no ritmo, o setor ainda representa um dos pilares da economia nacional e deve seguir em expansão moderada até 2026, à medida que novas políticas de crédito e programas habitacionais começam a surtir efeito.

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