As remessas enviadas dos Estados Unidos para o Brasil cresceram 2,8% de janeiro a setembro de 2025, contrariando a tendência global de queda e refletindo os efeitos da política migratória mais dura implementada pelo governo de Donald Trump. No total, os brasileiros residentes nos EUA enviaram quase US$ 1,7 bilhão ao país nesse período, segundo dados do Banco Central.
Embora as transferências totais de recursos do exterior para o Brasil tenham recuado 2,7% no mesmo intervalo, atingindo US$ 3,1 bilhões, o fluxo vindo dos Estados Unidos manteve-se em alta. Desde 2011, apenas em 2013 e agora, em 2025, houve uma divergência entre o comportamento das remessas gerais e aquelas originadas do mercado americano.
Para analistas, o endurecimento das políticas migratórias e o temor de deportações têm levado muitos brasileiros a enviar quantias maiores de forma mais frequente. “As operações com os EUA realmente aumentaram”, afirma Eduardo Campos, diretor de câmbio do Banco Daycoval. “No varejo físico, as pessoas têm feito menos transações, mas de valores mais altos, com receio de frequentar pontos de remessa presenciais. Já no meio digital, há mais operações em busca da melhor taxa de câmbio do dia”, explica.
Rodrigo de Godoi, presidente da organização Mantena Global Care, que presta apoio a imigrantes latino-americanos nos EUA, relata comportamento semelhante. Segundo ele, o anúncio de possíveis multas e cobranças contra imigrantes irregulares motivou muitos brasileiros a anteciparem transferências e até venderem bens para enviar recursos ao Brasil. “Empresas brasileiras perceberam essa demanda e passaram a oferecer meios legais de envio, aproveitando a oportunidade”, comenta.
Economistas, como André Galhardo, da Análise Econômica, avaliam que o movimento ainda está dentro de um padrão estatístico normal, mas pode ganhar força se o ambiente político americano se tornar mais hostil. “Há o componente do medo, da incerteza migratória, mas o impacto pleno ainda pode aparecer nos próximos meses”, afirma.
Além das remessas tradicionais, cresce o uso de criptomoedas, especialmente as chamadas “stablecoins”, que possuem paridade com moedas como o dólar. Elas permitem transferências mais rápidas e baratas, embora com menos garantias de segurança e sem regulamentação definida. “Esse mercado ainda gera dúvidas, pois não há mecanismos de reversão em caso de erro e o ambiente regulatório é incipiente”, diz Jacques Zylbergeld, superintendente de câmbio do Banco Rendimento.
O Banco Central, atento à tendência, concluiu em agosto uma consulta pública sobre a contabilização de ativos virtuais e prepara uma regulamentação que deve tratar da transparência e da tributação dessas operações.









