O aumento do endividamento das famílias brasileiras chegou aos condomínios, impulsionando um novo mercado de garantias financeiras e soluções de gestão. Empresas como o Grupo Superlógica e a LLZ Garantidora registram forte expansão em meio à alta dos atrasos no pagamento das taxas condominiais, que voltaram a níveis recordes.
A LLZ Garantidora, fundada em Belo Horizonte há 12 anos, prevê um crescimento de 35% em 2025, com R$ 2,6 bilhões em valores garantidos. A empresa, que possui 2.700 clientes, cobra de 1,85% a 20% da taxa condominial, além de juros e multas sobre os boletos atrasados. “Quando há inadimplência, os pagadores pontuais são penalizados, pois acabam arcando com um valor maior no rateio das despesas”, explica o CEO, Zener Costa. Segundo ele, a previsibilidade oferecida pelas garantias tem sido essencial para que condomínios mantenham reformas e serviços em dia.
O Grupo Superlógica também registrou avanço expressivo ao lançar o produto Inadimplência Zero, voltado para administradoras de condomínios. O contrato garante o pagamento integral das taxas condominiais, mesmo quando os moradores atrasam ou deixam de pagar. Em troca, a empresa recebe entre 1% e 10% do valor do boleto mensal, dependendo do risco de inadimplência do edifício. Caso o débito não seja quitado, a companhia assume a cobrança judicial — que, em última instância, pode resultar na perda do imóvel.
Desde o início da operação, a Superlógica já assegurou R$ 3,1 bilhões a 2,1 mil condomínios, com mais de R$ 100 milhões garantidos apenas no último mês. “A instabilidade econômica faz com que mais pessoas busquem esse tipo de segurança”, afirma João Baroni, diretor de crédito da companhia.
O crescimento das garantidoras reflete o agravamento do cenário financeiro dos moradores. Dados da plataforma uCondo mostram que a inadimplência condominial atingiu 11,95% no primeiro trimestre de 2025, o maior índice desde 2022. O aumento acompanha a elevação das taxas condominiais, cuja média nacional subiu de R$ 501 no segundo semestre de 2024 para R$ 516 neste ano.
Outro levantamento, do Grupo Superlógica, aponta inadimplência de 6,80% em setembro, a segunda maior média do ano. Apesar das diferenças nas metodologias, ambos os estudos indicam tendência de alta. Para Léo Mack, cofundador da uCondo, o atraso no pagamento da taxa condominial é um dos últimos sinais de aperto no orçamento familiar. “Quando alguém deixa de pagar o condomínio, é provável que já tenha deixado de honrar outras contas”, afirma.
Segundo ele, o aumento das taxas de juros e da inflação reduziu o poder de compra da população e elevou o custo do crédito. “A parcela do carro, o financiamento imobiliário e o cartão de crédito estão mais caros, o que empurra as famílias para a inadimplência”, complementa Baroni.
A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio (CNC), confirma a pressão sobre os orçamentos domésticos. Em 2025, 79,5% das famílias brasileiras relataram possuir algum tipo de dívida; 30,5% estão com pagamentos em atraso e 13,2% afirmam não ter condições de quitar as parcelas — o maior percentual da série histórica.
Com menos recursos em caixa, os condomínios enfrentam atrasos em manutenções e reformas, além do risco de desvalorização dos imóveis. “O condomínio é uma empresa sem fins lucrativos, criada apenas para ratear despesas. Quando falta dinheiro, serviços básicos como água e elevador ficam comprometidos”, ressalta Costa, da LLZ.
Além das garantias financeiras, o setor aposta em gestão digital. A uCondo, fundada em 2015, atende mais de 6 mil clientes e lançou uma assistente com inteligência artificial generativa que auxilia síndicos e administradores com dúvidas jurídicas e financeiras. Para Mack, “um condomínio equilibrado financeiramente é resultado de uma gestão transparente e de moradores bem informados”.
O aumento da inadimplência também expõe o risco individual do condômino. A dívida está vinculada ao imóvel, e não à pessoa, o que pode levar o bem a leilão em caso de atraso prolongado. O reflexo é visível: o número de imóveis em leilão no país quintuplicou nos últimos dois anos.









