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Faturamento da indústria brasileira volta a cair e amplia retração do setor em setembro

Dados da CNI mostram retração no faturamento e queda na capacidade instalada da indústria em meio à Selic elevada

A indústria brasileira encerrou setembro com novo recuo no faturamento e sinais de desaceleração mais acentuada. Após a queda de 1,3% registrada no mês, o setor acumula dois meses consecutivos de retração, depois da baixa de 5,2% em agosto. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (7) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), dentro do levantamento dos Indicadores Industriais.

Apesar da sequência negativa, o desempenho acumulado de janeiro a setembro ainda aponta crescimento de 2,1% em comparação com o mesmo período de 2024. A especialista em Políticas e Indústria da CNI, Larissa Nocko, explica que o movimento reflete o impacto das altas taxas de juros sobre o crédito e sobre o consumo doméstico. “Os consumidores acabam tendo acesso a um crédito mais caro e a menos crédito, o que reduz a demanda por produtos nacionais e favorece a penetração de importados no mercado interno”, afirmou.

A pressão sobre o setor também se manifesta nos indicadores de emprego e massa salarial. Em setembro, o número de pessoas ocupadas caiu 0,2%, encerrando um período de quatro meses de estabilidade. Apesar da retração pontual, o índice ainda acumula alta de 2% nos primeiros nove meses do ano. A massa salarial real, porém, registrou queda de 0,5% em relação a agosto e acumula recuo de 2,4% na comparação anual.

Outro dado de destaque foi a redução na Utilização da Capacidade Instalada (UCI), que passou de 78,3% em agosto para 77,9% em setembro, ficando 2,1 pontos percentuais abaixo do nível observado um ano antes. O indicador reforça o quadro de ociosidade nas plantas industriais e a perda de ritmo da produção.

Para o professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Victor Gomes, a estagnação reflete a necessidade de o país diversificar mercados e fortalecer relações com economias estabilizadas. “O setor industrial é essencial para o dinamismo econômico e depende de parceiros estratégicos. Se o Brasil conseguir fechar novos acordos comerciais com mercados como os Estados Unidos, isso pode gerar estímulo relevante à produção”, avaliou.

A CNI também identificou estabilidade nas horas trabalhadas e na produção industrial, que avançou apenas 0,1% entre agosto e setembro e acumula alta de 1,3% no ano. Larissa Nocko observa que os resultados estão alinhados à tendência de estagnação vista nos demais indicadores da indústria de transformação monitorados pelo IBGE. “Emprego, massa salarial e rendimento médio permanecem estáveis, o que confirma a perda de dinamismo do setor”, afirmou.

O rendimento médio real dos trabalhadores também se manteve estável em setembro, mas ainda mostra retração de 4,4% no acumulado de 2025 em relação ao mesmo período do ano anterior. Para a CNI, o quadro confirma o impacto da política monetária restritiva sobre a atividade produtiva e reforça a necessidade de medidas para reaquecer o setor industrial.

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