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Banco Central foi alertado por anos sobre avanço do Banco Master, apontam fontes

Após denúncias e liquidação do Master, informações revelam alertas prévios ao BC sobre ativos e práticas do banco

O Banco Central vinha sendo informado há anos sobre o ritmo acelerado de crescimento do Banco Master e sobre a presença de ativos considerados de difícil avaliação, segundo pessoas familiarizadas com as comunicações trocadas entre instituições do sistema financeiro. De acordo com essas fontes, o Fundo Garantidor de Créditos encaminhou advertências formais ao BC e executivos de grandes bancos, responsáveis pelo financiamento do fundo, também manifestaram preocupação diretamente à autoridade monetária. Alguns desses interlocutores afirmam que conversas ocorreram inclusive com o então presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que teria sinalizado a intenção de agir diante das informações recebidas. Campos Neto deixou o comando da instituição em janeiro e hoje integra o quadro do Nubank, sendo sucedido por Gabriel Galípolo, que agora conduz o processo de resolução do caso Master.

O FGC, por meio de nota, declarou manter desde 2019 um acordo de cooperação técnica com o Banco Central, garantindo troca sistemática de informações e reuniões periódicas entre os dois órgãos com o objetivo de fortalecer a estabilidade financeira. A entidade afirmou também que não reconhece declarações atribuídas a administradores do fundo sob anonimato e que comunicações fora dos canais oficiais não fazem parte de seus procedimentos institucionais. O Banco Central, por sua vez, não comentou de imediato as informações relatadas por pessoas próximas ao setor.

A liquidação extrajudicial do Master foi anunciada na terça-feira, medida que, segundo o Fundo Garantidor de Créditos, poderá resultar no pagamento de até R$ 41 bilhões a cerca de 1,6 milhão de credores, o que representa um valor inédito para o fundo. De acordo com uma fonte que acompanha o caso, o custo pode chegar a R$ 55 bilhões caso outras instituições menores relacionadas ao Master também venham a ser liquidadas. O FGC informou que, ao final de setembro, possuía R$ 160 bilhões em patrimônio e aproximadamente R$ 122 bilhões em liquidez. Ainda assim, integrantes do setor afirmam que o fundo precisará ser recapitalizado logo no início de 2026, com contribuições adicionais de grandes bancos.

A definição sobre o montante a ser reposto ainda está em análise. Representantes do sistema financeiro afirmam que a reposição deve ocorrer principalmente pela antecipação de contribuições futuras, mas que esse processo poderá se estender por vários anos. O FGC ressaltou, em sua nota, que não há prazo regulamentar específico para a recomposição dos recursos e que o assunto será discutido com base no impacto ao setor e na preservação da solidez do fundo.

A liquidação do Banco Master ocorre paralelamente ao avanço das investigações conduzidas pela Polícia Federal, que levaram à prisão do CEO Daniel Vorcaro. Ele e seus sócios assumiram o controle do banco em 2017, após a aquisição de uma instituição de pequeno porte. Desde então, o Master direcionou sua expansão com forte dependência de captações junto a investidores individuais por meio de instrumentos garantidos pelo FGC. O modelo de negócios fez com que o banco acumulasse depósitos expressivos, ampliando também a participação do Master no financiamento do próprio fundo. Pelo modelo vigente, quanto maior o volume captado por um banco, maior é a contribuição exigida para o FGC.

Com a liquidação, o Banco Central inicia o processo de desmontar as operações do Master, determinar o destino dos ativos e mapear a extensão das obrigações que poderão gerar desembolsos pelo fundo garantidor. A análise final sobre os impactos ainda depende do levantamento completo das exposições, das operações consideradas irregulares e da eventual necessidade de inclusão de outras instituições no processo de resolução.

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