Potes de tempero são mais contaminados que tampas de lixeira na cozinha

Estudo mostra que objetos, muitas vezes negligenciados na limpeza da cozinha, acumulam microrganismos prejudiciais à saúde

Comuns nas prateleiras e gavetas de diversas cozinhas, os potes de tempero deixaram de ser apenas uma forma de organização e assumiram uma nova função (não tão boa): provável disseminador de doenças.

Um estudo realizado nos EUA e publicado no Journal of Food Protection mostrou que esses utensílios têm mais microrganismos prejudiciais à saúde do que, por exemplo, tampas de lixeira na cozinha.

“Além de superfícies mais óbvias, como tábuas de corte, tampas de latas de lixo e alças de geladeira, aqui está outra coisa [potes de tempero] que você precisa prestar atenção quando estiver tentando ser limpo e higiênico em sua cozinha”, alerta o professor Donald Schaffner, da Universidade Rutgers, em Nova Jersey.

O contágio desses recipientes ocorre pelo que os cientistas chamam de contaminação cruzada, que é quando os micróbios são transferidos de uma substância, objeto ou, neste caso, do alimento para outro.

“Nossa pesquisa mostra que qualquer recipiente de tempero que você toca ao preparar carne crua pode ser contaminado. Você vai querer estar consciente disso durante ou após a preparação das refeições”, relata Schaffner.

Há diversas doenças que são transmitidas por alimentos, por exemplo, a gastroenterite aguda e as diarreias, provocadas pelas bactérias Campylobacter e Salmonella não-tifóide, respectivamente.

Apenas nos EUA, segundo os CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças), os alimentos são a causa de quase 2 milhões de infecções por ano.

Entre os alimentos responsáveis por uma parcela significativa desses casos de infecção, estão: frango, peru e carnes bovina e suína.

O estudo

No estudo, os pesquisadores acompanharam 371 adultos cozinhando uma receita de hambúrguer de peru e salada, de diferentes tamanhos, e em várias cozinhas. Os participantes não tinham ciência do que seria examinado.

Para simular o “caminho” de um patógeno, os cientistas também colocaram um bacteriófago – vírus inofensivo aos humanos –, chamado de MS2, na carne.

Após o preparo das refeições, a equipe esfregou os utensílios de cozinha, áreas de limpeza e as demais superfícies do ambiente para constatar, ou não, a presença do bacteriófago.

Após a análise, os pesquisadores constataram que os objetos contaminados com mais frequência eram os potes de tempero – cerca de 48% das amostras desses objetos tinham evidências de contágio por MS2.

“Ficamos surpresos porque não tínhamos visto evidências de contaminação do recipiente de especiarias antes”, conta Schaffner.

O que chamou a atenção da equipe foi que a porcentagem de contaminação encontrada nesses objetos foi muito diferente dos demais objetos e locais.

O segundo e terceiro utensílios mais contaminados foram as tábuas de corte e as tampas de lixeira, respectivamente. Os puxadores das torneiras foram os menos contaminados no estudo.

“A maioria das pesquisas sobre a contaminação cruzada de superfícies de cozinha devido ao manuseio de carne crua ou produtos de aves se concentrou em tábuas de corte de cozinha ou torneiras e negligenciou superfícies como recipientes de especiarias, tampas de lixeiras e outros utensílios de cozinha. Isso torna este estudo e estudos semelhantes de membros deste grupo mais abrangentes do que estudos anteriores”, diz o professor.

Os potes de tempero não precisam, no entanto, deixar de fazer parte das cozinhas. Os pesquisadores explicam que o manuseio adequado dos alimentos pode combater a contaminação cruzada.

Neste manuseio estão inclusas lavagens consistentes das mãos, cozimento adequado de alimentos e higienização constante das superfícies e utensílios da cozinha.