PicPay revisa projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2024

Economista-chefe do PicPay destaca corte de juros sincronizado em economias avançadas e seus reflexos para o Brasil

O PicPay revisou sua projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2024 de 1,3% para 1,8%. Grande parte dessa revisão (cerca de 0,3 do 0,5 ponto percentual) é atribuída à avaliação de um "regime macro global mais equilibrado", afirma Marco Caruso, economista-chefe do PicPay.

"Passamos o ano de 2023 inteiro imaginando em que momento poderia ter uma piora mais significativa do crescimento global, mas não veio, pelo contrário. Acho que a novidade, na margem, é que estamos vendo uma economia global bem mais resiliente de fato", diz Caruso.

A perspectiva de uma recessão global, lembra, foi sendo empurrada de 2023 para 2024, de modo que, no geral, as projeções ainda apontam um crescimento mundial mais fraco neste ano do que no passado. "Eu acho que isso pode não ser mais verdade. Fazendo conta, achamos que pode ter um crescimento um pouco acima de 3% nos dois anos", afirma Caruso.

Ainda que o corte de juros nas economias avançadas não tenha começado e que Caruso diga não ver, como o mercado, uma possibilidade de isso acontecer a partir de março nos Estados Unidos especificamente, esse cenário já está precificado na curva de juros e ajuda a sustentar a atividade.

"A grande história de 2024 é que estamos indo para um ciclo sincronizado global de cortes. Se vai começar em março ou depois, pode até fazer diferença para o PIB de 2024, por causa da defasagem, mas os efeitos já vão aparecer na atividade, porque as condições financeiras já vão ter sido afrouxadas mesmo com o atraso do 'timing' inicial. Acho bem menos importante o 'timing' do que a tendência e o transcorrer das coisas", afirma Caruso.

Um dos canais de transmissão dessa melhora externa para o Brasil deve ser através da indústria, aponta Caruso. Na pesquisa do IBGE, o setor avançou apenas 0,2% em 2023. "A indústria está parada. Mas o que estamos vendo é um ciclo de manufatura global muito melhor, e isso começou a respingar aqui no fim do ano passado", afirma, mencionando como exemplos a volta da construção de estoque na indústria e a aceleração da demanda final no varejo.

"Se esses estoques voltaram para um nível neutro, qualquer novidade na margem leva a indústria a ter de produzir mais", afirma.

Citando o desempenho dos Índices dos Gerentes de Compras (PMIs), da S&P Global, pelo mundo em janeiro, Caruso diz que "parece existir um ciclo global que tem transbordado positivamente para o Brasil".

O PicPay projeta o crescimento da indústria brasileira no PIB em torno de 2,5% em 2024. "Esse número já foi pior, então, explica o grosso da mudança na projeção", afirma Caruso.

Além disso, pelo lado da demanda, diz, o consumo deve continuar sustentando a atividade.

O que explica o outro 0,2 ponto percentual do ajuste feito pelo PicPay é o efeito que o pagamento dos precatórios pode ter na renda disponível de algumas famílias. "Cerca de metade do que foi pago em dezembro são precatórios alimentícios, que vão para pessoas que têm uma propensão maior a consumir", afirma Caruso.

O PicPay também ajustou sua estimativa para o câmbio, de R$ 5,15 para R$ 5 por dólar, considerando alguns fatores como uma melhora do risco-país.

O dólar, explica Caruso, geralmente é muito demandado em situações extremas: de recessão ou de uma economia muito forte nos EUA. "Eu acho que não estamos neste termo dos EUA muito fortes, mas acho que a gente está mais para esse lado do que para uma melhora sincronizada global que levaria a um dólar baixo. Ainda é um ambiente pró-dólar ou ativos denominados em dólar", pondera Caruso.