Inflação de serviços avança e preocupa o BC

Com mercado de trabalho aquecido e mais renda, consumidor aceita reajustes; em 12 meses, serviços de costura subiram 8,07% e manicure, 7,82%, retardando queda de juros pelo Banco Central

Após um ano sem reajustes, a proprietária de um salão de beleza, Paula Rocha, decidiu aumentar em 10% o valor do serviço de manicure em seu estabelecimento, localizado no bairro de Perdizes, Zona Oeste de São Paulo. Desde 1º de fevereiro, as clientes passaram a pagar R$ 44 pelo serviço de "fazer a mão", em comparação aos R$ 40 cobrados anteriormente. No ano anterior, o aumento tinha sido de R$ 2, equivalente a 5%.

"A decisão de aumentar em 10% se deve a uma série de fatores, incluindo o aluguel, serviços de lavanderia para as toalhas, custos com materiais como esmalte, acetona, lixas, envelopes de autoclave, IPTU e até mesmo o custo do café que sirvo aqui", explica Paula.

Antes do reajuste, as clientes foram informadas sobre a mudança e apenas duas delas apresentaram reclamações. Até o momento, Paula afirma que não percebeu uma diminuição no movimento, especialmente com o Carnaval aquecendo a demanda.

De acordo com suas análises, um aumento de 15% seria necessário para equilibrar as contas do negócio. "Não optei por isso porque achei um aumento muito alto; já com 10% foi significativo", explica Paula.

Por outro lado, Claudio Florio, proprietário do Fix Atelier, um serviço de costura também localizado em Perdizes, reajustou em média 12% os preços dos mais de 200 serviços oferecidos. Em 2022, o aumento médio tinha sido de 10%, mas ainda havia uma defasagem de cerca de 8% entre os custos e os preços.

"No ano passado, consegui um aumento médio de 12%, o que me permitiu recuperar os preços anteriores, já que a inflação foi bem menor", destaca Florio. Ele ressalta que o aumento foi impulsionado principalmente pelo aumento do custo da mão de obra, que representa metade de seus custos.

Os aumentos nos preços implementados por Florio e Paula em 2023 estão em linha com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o índice oficial de inflação do país. Nos últimos 12 meses até janeiro de 2024, o IPCA registrou alta de 4,51%, enquanto a inflação dos serviços aumentou 5,62%.

Além das passagens aéreas, que subiram em média 25,48% nos últimos 12 meses até janeiro de 2024, e do aumento médio de 10,86% nos preços de hospedagem no mesmo período, os serviços de costura e manicure se destacaram entre os reajustes anuais, com aumentos de 8,07% e 7,82%, respectivamente.

Também figuram na lista dos maiores aumentos de preços dos serviços o transporte por aplicativo (9,47%), aluguel de veículos (13,14%), pintura de veículos (8,98%), mensalidade de clubes (9,11%), cursos regulares (8,36%), dentistas (8,55%) e condomínio (6,81%). Todos esses aumentos foram superiores à inflação geral acumulada no período e também acima da inflação dos serviços.

No entanto, o cenário para a inflação como um todo tem se tornado cada vez mais favorável nos últimos tempos. As projeções do mercado financeiro para o IPCA de 2024, captadas pelo Boletim Focus do Banco Central, permaneceram estáveis em 3,81% ao término da primeira semana de fevereiro, após três semanas consecutivas de recuo.

Apesar das projeções indicarem uma desaceleração da inflação como um todo, há uma preocupação com o aumento dos preços dos serviços, especialmente devido à recuperação do mercado de trabalho. O ano de 2023 terminou com uma taxa média de desemprego de 7,8%, o menor resultado desde 2014, e uma massa real de rendimentos do trabalho recorde de R$ 295,6 bilhões, com um aumento de 11,7% em relação a 2022.

Segundo o economista Luis Eduardo Assis, ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, a inflação dos serviços não está tão estável quanto se esperava, pois está fortemente ligada ao desemprego, que historicamente está em níveis muito baixos, e ao nível de atividade, que por sua vez depende da taxa de juros. "Isso desencoraja o Banco Central a ser mais ousado nos cortes de juros", afirma Assis.

(Com O Estado de São Paulo)