Crise de IPOs: bolsa brasileira enfrenta a maior seca em 20 anos

Brasil vive maior seca em ofertas públicas iniciais de ações em ao menos 20 anos

O Brasil atravessa um dos momentos mais críticos na história de sua bolsa de valores, com um hiato de ofertas públicas iniciais de ações (IPOs) que já dura quase três anos. A última empresa a realizar uma estreia na B3 foi a Viveo, do setor farmacêutico, em agosto de 2021. Desde então, o mercado não vê novas empresas abrirem capital, marcando a maior seca de IPOs em pelo menos 20 anos.

Queda no Número de Empresas Listadas

Dados divulgados recentemente pela B3 mostram que, em junho de 2024, havia 439 empresas listadas na bolsa, uma redução de 0,7% em comparação com o mês anterior e de 1,1% em relação ao ano passado. Este é o menor número de empresas listadas desde junho de 2021, quando o mercado contava com a mesma quantidade de 439 companhias. Em seu auge, em dezembro de 2021, a B3 chegou a ter 463 empresas listadas. Desde então, o mercado perdeu 24 empresas.

Impacto da Saída da Cielo

O cenário deve se agravar no próximo mês com a saída da Cielo, uma das principais empresas do mercado. A oferta pública de aquisição de ações (OPA) da Cielo está marcada para 14 de agosto. Com uma capitalização de mercado de R$ 15,6 bilhões e um free float de 40,8%, a saída da Cielo representará um golpe significativo para a B3. Os controladores da credenciadora, Bradesco e Banco do Brasil, possuem o restante das ações.

Redução no Número de Investidores

Outro dado preocupante é a diminuição do número de investidores na bolsa. Em junho, o total de CPFs individuais registrados era de 5,109 milhões, uma queda de 0,2% em relação ao mês anterior. Este é o segundo mês consecutivo de queda, refletindo um movimento de retração no interesse pelo mercado acionário. Em julho de 2023, o número de investidores atingiu um pico de 5,356 milhões. Entretanto, um evento significativo em agosto daquele ano, quando o Nubank resgatou seus BDRs, resultou na saída de 548,8 mil investidores, reduzindo o total para cerca de 4,8 milhões. Desde então, a recuperação tem sido lenta e gradual.

Desempenho do Mercado

Além da ausência de novos IPOs, o desempenho negativo do mercado tem contribuído para o afastamento dos investidores. Em 2024, o Ibovespa acumula uma queda de 4,39%, enquanto o EWZ, índice que representa o mercado brasileiro em dólar, recua 15,8%.

Perspectivas Futuras

O futuro do mercado acionário brasileiro depende de uma série de fatores, incluindo a recuperação econômica, a confiança dos investidores e o retorno das ofertas públicas iniciais. A reativação dos IPOs é crucial não apenas para aumentar o número de empresas listadas, mas para atrair novos investidores e revitalizar o mercado.

A B3 enfrenta o desafio de reverter este cenário adverso e restaurar a confiança no mercado acionário brasileiro. Para isso, será essencial adotar medidas que incentivem novas empresas a abrirem capital e reengajem os investidores individuais, proporcionando um ambiente mais estável e atrativo para investimentos futuros.