Analistas avaliam o resultado do IPCA-15 de julho divulgado nesta quinta

A desaceleração no mês foi puxada pela queda dos alimentos, passado o impacto das chuvas no sul em maio, mas a inflação de serviços voltou a subir 0,7% no mês

Analistas ouvidos pelo portal Boletim Nacional avaliaram o resultado do IPCA-15 de julho, divulgado nesta quinta-feira (25), pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos destacou que o IPCA-15 ficou acima da expectativa da Warren Rena de 0,20% e da mediana da Bloomberg de 0,22%. Em 12 meses, a inflação acumula alta de 4,45% de 4,06% no mês anterior.  "A surpresa de +10 bps em relação ao esperado por nós é justificada, em maior medida, por passagem aérea e gasolina", destacou.

"Outro movimento inesperado veio em seguro de automóveis , que traz dúvida quanto a permanência do efeito na inflação do ano. Como o IBGE pesquisa a contratação de seguro novo, entendemos que as principais corretoras pesquisadas em cada área do país, mensalmente, possa estar refletindo o efeito das enchentes do Rio Grande do Sul (aumento de sinistralidade). Neste sentido, avaliamos que o efeito altista pode ter duração mais permanente na inflação que o esperado anteriormente, após esta mudança relevante de nível de preços. Para o ano, esperamos que este item apresente alta de 9,8%, após deflação de 7% em 2023," frisou a estrategista da Warren.

Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, destacou que a desaceleração no mês foi puxada pela queda dos alimentos, passado o impacto das chuvas no sul em maio, mas a inflação de serviços voltou a subir 0,7% no mês, com a alta das passagens aéreas de 19%. A alta da gasolina e energia elétrica também trouxe impacto nos preços administrados que subiram 0,7% em julho. Já a média dos núcleos ficou estável em 0,33% (3,7% em 12 meses), mas a medida de serviços subjacentes voltou a subir 0,58% e se mantém no elevado patamar de 4,8% em 12 meses. Historicamente, esse seria até um patamar baixo para a inflação de serviços no Brasil, mas não considerando a atual meta de 3,0%.

"Apesar da inflação apresentar alta, a política monetária permanece em patamar bastante restritivo e avaliamos que ainda não é um cenário para alta de juros pelo Copom. No entanto, fica claro que o impulso fiscal recente, com o forte aumento das despesas públicas no ambiente de mercado de trabalho aquecido, tem impacto negativo na inflação, principalmente nas medidas de serviços mais sensíveis a salários. Juros reais acima de 6% não estão sendo suficientes para a convergência mais rápida da inflação para meta e vemos um cenário de juros altos no atual patamar de 10,5% por mais tempo. O risco no cenário atual voltou a ser uma eventual elevação nos juros, caso o governo mantenha o patamar de expansão fiscal, que vem impactando tanto a taxa de câmbio, devido à percepção de maior risco pelos investidores, como estimulando a demanda em um ambiente de crescimento do PIB próximo do potencial", afirmou a economista.