Campos Neto defende superávit primário de até 2,5% para estabilizar dívida pública

Campos Neto frisou a importância de um superávit primário significativo para estabilizar a dívida

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou, nesta terça-feira (13), que o Brasil precisa alcançar um superávit primário entre 2% e 2,5% para estabilizar o crescimento da dívida pública nos níveis atuais. Durante audiência pública nas Comissões de Desenvolvimento Econômico e de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, Campos Neto destacou que a responsabilidade de implementar essa política cabe ao governo, enquanto ao Banco Central compete cumprir a meta de inflação e zelar pela estabilidade do sistema financeiro.

Reformas e Estabilidade Econômica

Campos Neto frisou a importância de um superávit primário significativo para estabilizar a dívida, ressaltando que o Brasil é um país altamente endividado. Ele reiterou que o objetivo do Banco Central é trazer a inflação para a meta de 3%, conforme o mandato estabelecido pelo governo.

O presidente do Banco Central também mencionou que a economia brasileira tem surpreendido com um crescimento consistente nos últimos 20 meses, e destacou que as decisões monetárias estão sendo tomadas com o apoio de quatro diretores indicados pelo atual governo, indicando plena sintonia com a administração federal. "Tenho certeza que quando sair do BC o trabalho vai continuar sendo feito de forma técnica", afirmou.

Taxa de Juros e Convergência da Dívida

Ao ser questionado sobre a relação entre a taxa neutra e a taxa real de juros, Campos Neto explicou que, na visão do mercado, a taxa neutra está em 5%, enquanto a taxa real de juros está em 6%. Ele argumentou que essa diferença de 1% acima da taxa neutra representa um esforço necessário para alcançar a convergência da inflação. "Se achamos que a taxa de juros real de 6% é muito alta, o que é alto é a taxa neutra de 5%, e isso se deve a razões estruturais que precisamos combater", afirmou.

Campos Neto destacou que, se o país começar a enfrentar de forma efetiva a questão da dívida pública e demonstrar aos agentes econômicos uma trajetória de convergência da dívida, as taxas de juros poderão ser reduzidas. Ele mencionou que, nos momentos em que planos fiscais críveis foram implementados, como o teto de gastos e o novo arcabouço fiscal, o Banco Central foi capaz de diminuir a taxa de juros.

Política Monetária e Reservas Internacionais

Sobre a condução da política monetária, Campos Neto apontou que diretores indicados pelo atual governo têm manifestado disposição para tomar medidas necessárias para controlar a inflação, inclusive com possíveis aumentos da taxa de juros, se necessário. Na segunda-feira, o diretor de política monetária, Gabriel Galípolo, afirmou que uma alta dos juros estava sendo considerada pelo Comitê de Política Monetária (Copom).

Campos Neto também comentou sobre a terceirização das reservas internacionais, prática que, segundo ele, não foi realizada durante seu mandato no Banco Central. Ele acrescentou que, embora não tenha participado de decisões de terceirização em outros governos, considera que terceirizar pequenas porções de reservas para fins de aprendizado "não é ruim".

Reconhecimento e Críticas

Durante a audiência, Campos Neto falou sobre sua participação em eventos organizados por governadores, incluindo uma cerimônia em sua homenagem promovida por Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo. Campos Neto foi criticado por parlamentares do PT por sua presença no evento, especialmente após especulações de que ele poderia assumir o Ministério da Economia em um eventual governo Tarcísio.

Campos Neto defendeu sua participação, alegando que eventos semelhantes já foram realizados por outros governadores, como Mauro Mendes, do Mato Grosso, e Romeu Zema, de Minas Gerais, sem causar polêmica. "Para mim, era mais um evento", disse ele, enfatizando que o reconhecimento obtido em tais ocasiões é importante para o Banco Central como instituição, e não para ele pessoalmente.

Ele também garantiu que sempre está disponível para reuniões com diferentes grupos e que todos os pedidos de audiência no Banco Central são atendidos. "Todo mundo que pede audiência eu recebo, todo mundo que vai no Banco Central eu recebo", concluiu.