Após três anos de “seca” de IPOs, mercado se prepara para retomada em 2025
O processo de corte de juros pelo Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, demorou mais do que o esperado, o que contribuiu para o atraso na volta dos IPOs no Brasil

Com o terceiro aniversário da ausência de estreias na bolsa brasileira se aproximando, bancos de investimento estão intensificando reuniões com empresas de capital fechado que podem testar o mercado a partir de 2025. A expectativa é que este ano marque o fim da “seca” de ofertas iniciais de ações (IPOs) na B3.

A fila de potenciais candidatas é extensa e inclui grandes companhias como CantuStore (plataforma de acessórios para veículos), BRK (saneamento), Inspirali (educação médica), Compass (gás) e Aegea (saneamento). Essas empresas estão entre os nomes que podem liderar a retomada das operações assim que a janela para IPOs for reaberta.

O processo de corte de juros pelo Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, demorou mais do que o esperado, o que contribuiu para o atraso na volta dos IPOs no Brasil. Internamente, as incertezas em relação ao compromisso fiscal do governo também impediram uma retomada neste ano.

Para que essa recuperação ocorra em 2025, a expectativa é que os investidores estrangeiros voltem a desempenhar um papel crucial nas ofertas, ajudando a viabilizar as novas aberturas de capital.

Felipe Thut, responsável pelo banco de investimento do Bradesco BBI, afirma que, assim como no "boom" de IPOs entre 2006 e 2008, os investidores internacionais devem novamente ser os maiores responsáveis pela demanda, principalmente com o início dos cortes de juros nos EUA, que deve direcionar o capital para mercados emergentes em busca de maior risco. Naquele período, estrangeiros compraram cerca de 70% das ofertas no Brasil, mas esse cenário mudou em 2020 e 2021, quando o apetite local aumentou devido à queda acentuada dos juros no país.

Thut destaca que, para atrair capital estrangeiro, as operações terão que ter grande porte para garantir liquidez, uma exigência clara dos investidores internacionais. “A indústria de fundos de ações e multimercados no Brasil está sofrendo, por isso, dependeremos mais dos estrangeiros. Mas com a queda dos juros, estamos vendo uma migração de fluxo de investidores internacionais para mercados emergentes”, diz Thut.

Em um evento organizado pelo Bradesco BBI, que reuniu 15 empresas de capital fechado em São Paulo, Thut observou o interesse dos investidores em participar de encontros com as empresas, especialmente em um momento de recursos escassos, quando a seleção de investimentos se torna ainda mais criteriosa. Além disso, muitos investidores utilizam esses encontros para comparar dados e desempenho de companhias já listadas na bolsa.

Entre os setores mais procurados pelos investidores, o de saneamento se destacou, impulsionado pelo processo de privatização da Sabesp. Tecnologia, varejo e serviços também atraíram grande interesse.

Rafaela Vesterman, gerente de relacionamento com clientes da B3, afirma que a bolsa tem aumentado a frequência e o escopo dos eventos com empresas de capital fechado desde 2022. Neste ano, 111 companhias já participaram de atividades na B3, discutindo temas como relações com investidores, diversidade e sustentabilidade.

No cenário internacional, o UBS BB reuniu 100 empresas brasileiras e latino-americanas, todas com ações na bolsa, em Nova York, para encontros com mais de 200 investidores estrangeiros. Anderson Brito, chefe global do banco de investimento do UBS BB, afirma que a visão sobre o Brasil é “positiva, mas com cautela”, e que há espaço para alocação de recursos no país, especialmente à medida que os juros nos EUA começam a cair.

Brito acredita que o fluxo de capital deve retornar primeiro ao mercado secundário, ou seja, às ações já negociadas na bolsa. O próximo passo seria o retorno das ofertas subsequentes de ações (“follow-on”), algumas das quais podem ocorrer ainda neste ano. No entanto, a grande expectativa está voltada para a retomada dos IPOs em 2025, após três anos sem novas estreias na B3.

Bruno Saraiva, do Bank of America (BofA), prevê que a retomada das ofertas ocorra apenas no segundo trimestre de 2025. Ele destaca que os investidores estrangeiros esperam sinais mais positivos sobre as contas públicas do Brasil e uma narrativa mais clara sobre o país, que atualmente sofre com um “excesso de ruídos”.

Empresas como CantuStore, BRK e Aegea, que estão entre as potenciais candidatas ao IPO, mantêm cautela em comentar seus planos publicamente, seguindo as regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Entretanto, há sinais de que essas companhias estão monitorando de perto as condições do mercado, avaliando o momento ideal para realizar suas ofertas iniciais de ações.

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