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O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou que a economia argentina está surpreendendo com um crescimento acima das expectativas, impulsionado por uma redução no prêmio de risco decorrente de medidas de contração fiscal. A declaração foi feita durante um evento promovido pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
— Quando você reduz significativamente o prêmio de risco, isso compensa o dinheiro que saiu de circulação devido à contração fiscal. Os números recentes mostram um crescimento acima do esperado — explicou Campos Neto.
Ajuste fiscal e credibilidade econômica
Campos Neto ressaltou a importância da percepção dos agentes econômicos sobre políticas fiscais, afirmando que, em algumas situações, pacotes fiscais que visam impulsionar a economia podem ter o efeito contrário ao esperado. No contexto brasileiro, ele destacou a necessidade de um “choque positivo” que reforce a credibilidade e sinalize a estabilização da dívida pública.
— O nível de endividamento não é um problema exclusivo do Brasil, mas aqui já partimos de uma base de dívida muito alta. Reconhecemos o esforço do ministro Fernando Haddad, mas precisamos de um anúncio mais concreto de corte de gastos — afirmou.
PIB e impacto das reformas estruturais
Campos Neto discordou da visão predominante de que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro está sendo impulsionado principalmente pelo estímulo fiscal. Ele destacou o papel das reformas estruturais no desempenho econômico.
— Acho que há também o efeito das reformas. Muitas expectativas de crescimento estrutural do Brasil estão sendo revisadas para cima — disse.
O Ministério da Fazenda revisou recentemente sua projeção para o crescimento do PIB em 2024, de 3,2% para 3,3%, enquanto a estimativa para a inflação oficial (IPCA) subiu de 4,25% para 4,4%.
Efeito da Selic e taxas de juros longas
Questionado sobre o impacto da Selic elevada em setores como a construção civil, Campos Neto afirmou que, paradoxalmente, o aperto monetário pode beneficiar a economia ao reduzir as taxas de juros longas.
— Temos tentado comunicar que, se tivermos credibilidade no aumento dos juros, as taxas longas tendem a cair, o que beneficia a atividade econômica em setores estratégicos — explicou.
Contexto e desafios
As declarações de Campos Neto ocorrem em um momento em que o ajuste fiscal é um dos temas centrais no debate econômico brasileiro. Ele destacou que, enquanto o Brasil busca equilibrar sua dívida pública, as reformas estruturais podem desempenhar um papel importante na consolidação do crescimento econômico de longo prazo.
Ao comparar o cenário brasileiro com o argentino, Campos Neto reforçou a importância da percepção de estabilidade fiscal para atrair investimentos e impulsionar a atividade econômica, destacando que o esforço deve ser acompanhado de credibilidade nas decisões de política monetária e fiscal.