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A inflação de alimentos promete continuar impactando fortemente o orçamento das famílias brasileiras, com as carnes assumindo o papel de principal vilã.
Segundo estimativas do economista Alexandre Maluf, da XP, o preço das carnes deve encerrar 2024 com uma alta acumulada de 12,5% e subir ainda mais em 2025, com uma projeção de 16,1%. Esse aumento é resultado do chamado "ciclo do boi" e das condições de entressafra, típicas do fim do ano, agravadas pela seca recorde, que torna os pastos menos nutritivos, reduzindo a produtividade da carne.
Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, destaca que, nos últimos anos, a queda no preço do boi gordo levou pecuaristas a venderem parte de suas matrizes, diminuindo a produção de bezerros e reduzindo o rebanho. Esse movimento estrutural prolonga a pressão nos preços das carnes, afastando qualquer alívio a curto prazo.
Câmbio e Pressão nas Proteínas Substitutas
O câmbio também contribui para essa alta, tornando a carne brasileira mais atraente para o mercado internacional, o que eleva os preços no atacado em mais de 40% das mínimas registradas neste ano. Como resultado, o aumento já chega ao consumidor final e deve persistir até 2025. Além disso, com a elevação nos preços da carne bovina, a demanda por proteínas substitutas como frango e ovos também aumenta, puxando seus valores para cima.
Inflação de Alimentos em Alta: Projeções Revisadas
A inflação de alimentos continua como uma das maiores pressões no orçamento das famílias. A LCA revisou suas projeções para o setor, elevando a estimativa de alta para 7,2% em 2024. Os números para a alimentação em domicílio apontam para um cenário de alta contínua: outubro deve fechar com 1,13%, novembro com 1,08%, e dezembro com 1,06%. A MBA Agro projeta uma inflação anual de 7,6% para os alimentos consumidos em casa.
Perspectivas: Clima e Tarifas de Energia
Uma eventual trégua no aumento dos preços pode vir das chuvas, que, segundo José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, estão previstas para ocorrer de forma constante, mas sem excesso, o que beneficiaria culturas de ciclo curto, como hortaliças. No entanto, a inflação de alimentos é persistente, e qualquer impacto positivo do clima levará tempo para refletir nas prateleiras.
No contexto mais amplo da inflação, o alívio virá com a redução na tarifa de energia, que deve passar da bandeira vermelha 2 para a amarela em novembro, possivelmente se mantendo nessa categoria com o retorno das chuvas. Mesmo assim, a inflação de alimentos continuará pesando no orçamento e é uma realidade inescapável. Até o fim do ano, mesmo que a inflação geral se mantenha dentro do teto da meta, o impacto dos alimentos seguirá afetando diretamente o bolso do consumidor.