EUA iniciam maior transferência de riqueza da história
O valor equivale aproximadamente ao Produto Interno Bruto (PIB) global de 2023

Os Estados Unidos estão prestes a presenciar a maior transferência de riqueza intergeracional de sua história, com cerca de US$ 105 trilhões projetados para serem transferidos das gerações mais velhas para as mais jovens nos próximos 25 anos. O valor equivale aproximadamente ao Produto Interno Bruto (PIB) global de 2023 e reflete o impacto da valorização dos mercados de ações, preços de imóveis e inflação sobre os patrimônios acumulados pela geração baby boomer, nascida entre 1946 e 1964.

Esse movimento, detalhado por um relatório da Cerulli Associates, trará oportunidades significativas para gestores de patrimônio e especialistas em planejamento sucessório. Cerca de 80% da riqueza atualmente concentrada mudará de mãos nesse período, criando novas dinâmicas econômicas e sociais. Entretanto, o impacto será desigualmente distribuído: mais da metade da riqueza transferida até 2048 virá de famílias com ativos investíveis superiores a US$ 5 milhões, que representam apenas 2% da população americana.

Essa concentração de recursos reflete tendências de longo prazo. Desde a década de 1990, a proporção da riqueza familiar derivada de heranças tem crescido, enquanto a obtida por meio de trabalho ou investimentos diminuiu. Economistas como Chuck Collins e Kaushik Basu destacam que esse fenômeno reforça desigualdades, criando uma economia mais voltada à perpetuação de dinastias familiares do que ao empreendedorismo.

Apesar disso, as transferências de riqueza não se limitam a gerações mais jovens. Antes de chegar aos filhos e netos, grande parte dos ativos é transferida para cônjuges sobreviventes, com as mulheres herdando quase metade do valor total projetado. Essa mudança representa um passo em direção à equidade de gênero na posse de patrimônio, embora o acesso às oportunidades ainda permaneça desigual.

A política tributária dos Estados Unidos também desempenha um papel crucial nesse cenário. A redução no imposto sobre heranças introduzida em 2017 favoreceu os mais ricos, permitindo que uma parcela significativa da riqueza herdada permanecesse intocada por tributações substanciais. Em 2023, as receitas do imposto sobre heranças somaram apenas US$ 24 bilhões, representando cerca de 1% do total de doações e heranças estimadas para o próximo ano, um valor criticado por economistas como Lawrence Summers, ex-secretário do Tesouro.

Além de influenciar o mercado, essa transferência já molda as estratégias de planejamento financeiro das gerações mais velhas. Muitos baby boomers optam por compartilhar sua riqueza enquanto ainda estão vivos, observando os impactos positivos que ela pode ter sobre suas famílias. Esse comportamento, conhecido como "dar enquanto se vive", ganhou força nos últimos anos e reflete a intenção de apoiar filhos e netos enquanto os doadores podem testemunhar os benefícios diretos de sua generosidade.

À medida que o processo de transferência de riqueza se intensifica, ele também gera debates sobre como reduzir as desigualdades que ele perpetua. Embora ofereça oportunidades para as gerações futuras, a concentração dos recursos entre uma parcela pequena e rica da população pode exacerbar as barreiras para famílias de baixa renda, reforçando desigualdades históricas.

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