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O diretor de política monetária e futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou nesta segunda-feira que a combinação de expansão fiscal e um cenário internacional desafiador reforça a necessidade de manter juros altos por mais tempo. Segundo ele, o dinamismo maior do que o esperado na economia brasileira em 2024 surpreendeu o mercado e vem sendo revisado para cima continuamente.
Dinamismo Econômico e Consumo
Durante um evento da XP Investimentos em São Paulo, Galípolo destacou que a política fiscal adotada pelo governo colocou mais recursos nas mãos de consumidores com alta propensão ao consumo, impulsionando o crescimento.
"A progressividade da política fiscal colocou mais dinheiro na mão de pessoas que consomem mais, revelando um dinamismo superior ao imaginado. Mais um ano em que estamos revisando o crescimento para cima", disse.
Cenário Internacional e Desafios Internos
Galípolo também chamou atenção para os riscos externos, como a desaceleração econômica da China e a incerteza política nos Estados Unidos, com o novo governo de Donald Trump. No contexto doméstico, a desvalorização do real adiciona complexidade ao cenário econômico.
Além disso, ele ressaltou a preocupação do Banco Central com a desancoragem das expectativas de inflação, que permanece há bastante tempo.
"O mercado acredita que o BC provavelmente não fará o suficiente para reancorar as expectativas, embora não haja muita diferença entre o que os agentes econômicos fariam e o que imaginam que o BC fará", explicou.
Galípolo apontou que as dúvidas sobre o pacote de corte de gastos do governo agravam ainda mais essa desancoragem, reforçando o papel do Banco Central na tentativa de estabilizar as expectativas.
Política Monetária e Perspectivas
Sem dar detalhes sobre os próximos passos, Galípolo enfatizou que o Banco Central age com cautela em suas decisões.
"O papel do Banco Central é reancorar essas expectativas, mas não daremos nenhum guidance sobre as próximas reuniões, especialmente às vésperas do Copom," afirmou.
O diretor destacou ainda que o BC iniciou o ciclo de cortes na taxa Selic mesmo com as expectativas de inflação ainda não totalmente ancoradas, devido à percepção inicial de uma desaceleração econômica que, segundo ele, não se concretizou como esperado.
Frustração com a Desaceleração
"Esperávamos um processo de desaceleração da economia, mas ele vem sendo frustrado sistematicamente," disse Galípolo, sugerindo que o crescimento mais forte exige cautela no manejo da política monetária para evitar descontrole inflacionário.