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O mês de outubro trouxe um cenário econômico desafiador para o Brasil. Enquanto o dólar registrou uma alta de 6,1%, alcançando seu maior nível desde 2021, o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, recuou de maneira mais moderada, com queda de 1,6%. Este desempenho reflete uma certa resiliência do mercado acionário nacional, embora, quando traduzido para o dólar, o índice apresente uma desvalorização de 7,4%.
Segundo a equipe de estrategistas da XP — formada por Fernando Ferreira, Jennie Li, Júlia Aquino e Felipe Veiga —, essa resistência do Ibovespa pode ser explicada por quatro pilares fundamentais: crescimento robusto dos lucros, estímulos econômicos vindos da China, recompra de ações e distribuição de dividendos, além de baixos níveis de valuation.
Crescimento dos Lucros e Forte Atividade Econômica
Um dos principais fatores por trás da resiliência do mercado, apontado pela XP, é o crescimento dos lucros das empresas brasileiras. Desde a pandemia, a economia nacional tem superado projeções, com previsão de crescimento ao redor de 3% em 2024. Esse cenário de atividade econômica sólida impulsiona as expectativas de aumento nos lucros, com um crescimento projetado de 10% em receitas e de 12% em Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações).
Os setores de Bancos, Alimentos & Bebidas, Construção Civil, Mineração & Siderurgia e Papel & Celulose são destaques no radar da XP. Esses segmentos apresentam múltiplos de valuation atrativos e têm recebido revisões positivas em suas projeções de lucros, fortalecendo o panorama para o Ibovespa. Entre as ações promissoras, destacam-se BRF (BRFS3), CBA (CBAV3), C&A (CEAB3), Direcional (DIRR3), Energisa (ENGI11), Unifique (FIQE3), JBS (JBSS3) e Unipar Carbocloro (UNIP6).
Estímulos da China e Cenário Global Positivo
Outro fator de apoio ao mercado é o recente anúncio de estímulos econômicos por parte da China. Em setembro, o governo chinês anunciou um pacote significativo para impulsionar sua economia, surpreendendo positivamente os investidores. Embora não tenha provocado um aumento direto nos fluxos de investimentos estrangeiros para o Brasil — houve saída de R$ 2 bilhões em outubro, segundo a B3 —, esses estímulos, somados aos cortes de juros promovidos pelo Federal Reserve (Fed) nos EUA, melhoram o panorama global para mercados emergentes, favorecendo também o mercado brasileiro.
Recompras de Ações e Dividendos
Em 2024, as empresas brasileiras têm sido protagonistas em seus próprios mercados, atuando como compradoras líquidas de ações. Até outubro, foram anunciados 66 programas de recompra de ações, quase o dobro dos 35 registrados em 2023. A recompra de ações, somada à distribuição generosa de dividendos, tem atraído investidores e proporcionado suporte adicional ao Ibovespa, reforçando a resiliência do mercado em um ambiente de incertezas.
Valuation Atrativo e Perspectivas para o Ibovespa
Outro ponto destacado pelos analistas da XP é o valuation do mercado brasileiro. O múltiplo Preço/Lucro (P/L) projetado para o Ibovespa e para o MSCI Brasil é significativamente mais baixo do que o de outros mercados emergentes e desenvolvidos, com exceção da Colômbia. Essa avaliação torna o mercado nacional atrativo para investidores que buscam oportunidades de valorização em meio às condições econômicas desafiadoras.
Apesar do cenário macroeconômico cauteloso, os estrategistas da XP mantêm um valor justo para o Ibovespa em 150.000 pontos nos próximos doze meses, o que representa um potencial de valorização de 15,6% frente ao fechamento de outubro. Essa projeção considera uma média de quatro metodologias: fluxo de caixa descontado (DCF), preço sobre lucro (P/E), valor da firma sobre Ebitda (EV/Ebitda) e uma abordagem bottom-up, que foca no potencial de cada ação que compõe o índice.
Em resumo, o Ibovespa segue demonstrando força e atraindo atenção em meio a um cenário econômico global desafiador, impulsionado pelo crescimento dos lucros, apoio de mercados internacionais e políticas de recompra e dividendos. Enquanto os investidores enfrentam ventos contrários, o mercado de ações brasileiro continua a mostrar seu potencial de recuperação e valorização.