Moody’s eleva nota do Brasil, mas País ainda permanece em grau especulativo
Apesar da elevação da nota pela Moody’s, o Brasil ainda precisa avançar em questões fiscais e econômicas para reconquistar o selo de bom pagador e atrair mais investimentos internacionais

Cinco meses após melhorar a perspectiva de rating do Brasil, a agência de classificação de risco Moody’s anunciou a elevação da nota do país de Ba2 com perspectiva positiva para Ba1, um nível abaixo do grau de investimento. A agência manteve a perspectiva positiva e se adiantou às concorrentes Fitch e Standard & Poor’s (S&P), que junto com a Moody’s formam as "Big 3" do setor de classificação de risco.

Apesar do upgrade, o Brasil continua classificado como um mercado de investimento de grau "especulativo" nas três agências, ficando um degrau antes de alcançar o selo de "bom pagador", conhecido como investment grade (grau de investimento). Este é um nível almejado por empresas e governos, pois atrai mais investimentos e, por consequência, ajuda a impulsionar a economia doméstica. Fundos de pensão internacionais, por exemplo, são autorizados a comprar apenas títulos classificados como investment grade pelas agências.

Motivos da Elevação

Segundo a Moody’s, a elevação da nota reflete as melhorias significativas no crédito do país, um desempenho de crescimento mais robusto do que o previsto anteriormente e avanços em reformas econômicas e fiscais que conferem maior resiliência ao perfil de crédito do Brasil. No entanto, a agência destaca que a credibilidade da estrutura fiscal brasileira ainda é considerada moderada, o que se reflete em um custo relativamente alto da dívida pública.

A Moody’s também apontou que a eficácia da política econômica do Brasil enfrenta limitações devido a riscos fiscais persistentes, em grande parte causados pela rigidez das despesas obrigatórias, como a previdência social. “Essas limitações pesam sobre a credibilidade da política fiscal e complicam os esforços contínuos para cumprir as metas fiscais, o que prejudica a eficácia da política e contribui para prêmios de risco relativamente altos”, afirmou a agência em nota.

A agência ressaltou que um crescimento econômico sólido e sustentável, juntamente com a implementação de cortes de gastos, poderia melhorar a estrutura fiscal do país e reduzir as incertezas em relação à trajetória da dívida brasileira. “Isso aumentaria a credibilidade da política fiscal e apoiaria a força institucional geral. O aumento da credibilidade contribuiria para reduzir os custos dos empréstimos e poderia melhorar a dinâmica da dívida mais do que esperamos atualmente”, completou a Moody’s.

Reação do Governo

Após o anúncio da Moody’s, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declarou que o governo pode conquistar o grau de investimento ainda no atual mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, desde que mantenha o compromisso com as contas públicas. “Se o governo, como um todo, compreender que vale a pena esse esforço, que esse esforço está produzindo os melhores resultados, e continuarmos sem baixar a guarda em relação às despesas e receitas, acredito que temos a chance de completar o mandato do presidente Lula, reobtendo o grau de investimento”, afirmou Haddad à imprensa.

Entendendo o Rating

Para determinar as notas de crédito de longo prazo, as agências de classificação de risco consideram variáveis políticas e econômicas, como taxas de juros, fluxo de caixa, contexto político e projeções futuras. Elas também medem a capacidade de pagamento da dívida de um país – o chamado rating soberano. No caso do Brasil, a Moody’s havia melhorado a perspectiva do país em 1º de maio, citando positivamente a capacidade de pagamento da dívida.

No sistema de classificação da Moody’s, a nota Ba1 ainda é considerada grau especulativo. Apenas as notas seguintes, que vão de Baa1 a AAA, são reconhecidas como grau de investimento. Na escala da Fitch, o Brasil está classificado atualmente em BB, dois degraus abaixo do grau de investimento. A Fitch alterou a nota do Brasil em julho do ano passado, após deixar o país no BB- por cinco anos. Em outubro de 2015, foi a última vez que o Brasil obteve o grau de investimento da Fitch, com a nota BBB-. Já em dezembro de 2023, a agência confirmou o rating do país e a perspectiva "estável".

A Standard & Poor’s (S&P), por sua vez, foi a primeira a conceder o título de grau de investimento ao Brasil em 2008, durante o segundo mandato do presidente Lula. Atualmente, a S&P classifica o Brasil como BB-, também dois níveis abaixo do selo de bom pagador. Esta nota está inalterada desde janeiro de 2018, mas o outlook mudou de "estável" para "positivo" em junho do ano passado.

Encontro com Agências de Rating

O anúncio da mudança no rating do Brasil pela Moody’s ocorreu uma semana após o presidente Lula se reunir com as principais agências de classificação de risco durante sua visita a Nova York. Na ocasião, Lula afirmou que havia chamado representantes das três maiores classificadoras do mundo para discutir pessoalmente a situação econômica do Brasil, acompanhado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

 

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