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A economia brasileira avançou 0,9% no terceiro trimestre de 2024, na comparação com os três meses anteriores, informou o IBGE nesta terça-feira (3). O crescimento ficou acima da mediana das projeções de mercado, que esperava alta de 0,8%, mas representou uma desaceleração em relação ao trimestre anterior, quando o PIB cresceu 1,4%.
Na comparação anual, o PIB registrou crescimento de 4%, impulsionado principalmente pela recuperação do mercado de trabalho, aumento da renda e estímulos fiscais. Apesar dos números positivos, especialistas alertam para uma desaceleração no último trimestre do ano, devido a incertezas fiscais e ao cenário internacional desafiador.
Os Motores do Crescimento
De julho a setembro, o crescimento econômico foi sustentado por uma combinação de fatores:
- Mercado de trabalho: a taxa de desocupação foi de 6,2%, a mais baixa da série histórica, impulsionando o consumo interno.
- Impulsos fiscais: o reajuste real do salário mínimo e os benefícios sociais reforçaram a demanda interna.
- Investimentos: a formação bruta de capital fixo avançou 2,1%, refletindo o aumento de investimentos públicos e maior desembolso do BNDES.
- Consumo das famílias: crescimento de 1,5%, enquanto o consumo do governo subiu 0,8%.
Por outro lado, as exportações recuaram 0,6%, enquanto as importações cresceram 1,0%, impactadas pelo câmbio desvalorizado.
Setores da Economia
Pelo lado da oferta, o desempenho foi liderado pela indústria, que cresceu 0,9%, e pelos serviços, com alta de 0,6%. A agropecuária, concentrada no início do ano, teve retração de 0,9%.
"O destaque foi a indústria, especialmente o setor de transformação, que cresceu acima das expectativas," afirmou Natália Cotarelli, economista do Itaú.
Projeções e Sinais de Desaceleração
Apesar do bom desempenho até o terceiro trimestre, analistas preveem um crescimento mais modesto para o quarto trimestre. A incerteza fiscal, agravada pelo pacote de contenção de gastos e pela isenção de IR para rendas de até R$ 5 mil, contribuiu para a desvalorização do real, que ultrapassou a marca de R$ 6 em relação ao dólar, e para a revisão das projeções de juros.
O Banco Central deve elevar a taxa Selic, atualmente em 11,25%, para 13,25% até maio de 2025, segundo estimativas do relatório Focus.
"Uma política monetária mais apertada e menor impulso fiscal devem frear o crescimento econômico," avaliou Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galápagos Capital.
Cenário Internacional
No plano global, a vitória de Donald Trump nas eleições dos EUA traz novas incertezas. Medidas prometidas pelo republicano, como aumento de tarifas de importação e restrições à imigração, devem fortalecer o dólar e pressionar a inflação americana, dificultando cortes mais expressivos nas taxas de juros pelo Federal Reserve em 2025. Isso pode reduzir o fluxo de capitais para economias emergentes como o Brasil.
"As políticas de Trump podem fortalecer ainda mais o dólar e limitar a queda dos juros nos EUA, impactando negativamente mercados como o brasileiro," comentou Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria.
Perspectivas para 2024
Apesar das incertezas, o PIB brasileiro deve encerrar o ano com crescimento próximo de 3,5%, acima das projeções iniciais de 1,5%. O mercado de trabalho e os investimentos continuam sendo pilares para a economia, mas o ritmo de expansão deve arrefecer em 2025 diante do aperto monetário e da volatilidade internacional.