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Além das turbulências causadas pela guerra comercial e pelas novas tarifas internacionais, a semana também foi marcada pela divulgação dos dados operacionais das principais construtoras listadas na bolsa brasileira. Segundo relatório do Itaú BBA, o primeiro trimestre de 2025 (1T25) trouxe surpresas positivas para boa parte do setor, com destaque para Cury (CURY3), Direcional (DIRR3) e Tenda (TEND3), que lideraram em performance operacional. Já Mitre (MTRE3), Lavvi (LAVV3) e Even (EVEN3) tiveram desempenhos mais modestos, com avaliação neutra ou negativa.
Cury: destaque absoluto com lançamentos de R$ 2,6 bi
A Cury foi apontada como a melhor entre as empresas acompanhadas pelo banco. A companhia atingiu R$ 2,6 bilhões em lançamentos e R$ 1,9 bilhão em vendas líquidas no 1T25 — um salto de 63% na comparação trimestral. A velocidade de vendas (VSO) cresceu para 45%, com ganho de 170 pontos-base em relação ao trimestre anterior. Além disso, a construtora gerou R$ 26 milhões em caixa no período, resultado da forte execução operacional focada no programa Minha Casa Minha Vida (MCMV).
A Cyrela, que detém 50% da Cury, segue apontando a empresa como seu principal vetor de crescimento e projeta R$ 8 bilhões em VGV lançados pela companhia em 2025.
Direcional e Tenda surpreendem com crescimento robusto
A Direcional também apresentou um trimestre acima das expectativas, com R$ 921 milhões em lançamentos — 15% acima do previsto — e R$ 1,088 bilhão em vendas líquidas, alta de 10% no trimestre. A VSO subiu para 26%, com destaque para a operação da subsidiária Alea, que registrou aumento de 32% no ticket médio, puxado por um lançamento de padrão superior em Taubaté. A companhia ainda reduziu a duração de seus estoques para 6,6 meses e ampliou seu landbank para R$ 23,4 bilhões.
A Tenda, por sua vez, teve desempenho semelhante. Lançou R$ 921 milhões em VGV, também 15% acima do estimado, e vendeu R$ 1 bilhão — alta de 10% frente ao trimestre anterior. A VSO subiu de 23% para 26%, e o landbank cresceu para R$ 23,4 bilhões. Assim como a Direcional, a Alea foi peça-chave nos resultados, com valorização expressiva no preço das unidades.
Cyrela mantém bom ritmo, apesar da queda nas vendas
A Cyrela entregou lançamentos de R$ 3,38 bilhões — 13% acima do esperado — reforçando sua meta ambiciosa de R$ 11 bilhões em VGV para 2025. Contudo, as vendas líquidas recuaram 40% em relação ao trimestre anterior, somando R$ 2,11 bilhões. Apesar da desaceleração, a VSO manteve-se em 33%, ainda que abaixo dos 57% registrados no 4T24, influenciados pelo sucesso do projeto Vista Armani. A empresa preservou a estabilidade dos estoques, com duração de 11 meses, e viu suas ações valorizarem 50% no acumulado do ano.
Moura Dubeux cresce com foco na marca Mood
A Moura Dubeux lançou R$ 402 milhões no trimestre — número abaixo do 4T24, mas com avanço anual de 16%. As vendas líquidas chegaram a R$ 551 milhões, com aumento tanto na base trimestral quanto anual. A VSO permaneceu em 24% e o estoque foi reduzido para 8 meses. O grande destaque ficou por conta da marca Mood, responsável por 42% das vendas no trimestre. Apesar de consumir R$ 18 milhões em caixa, a empresa manteve sua média histórica e acumulou valorização de 40% em 2025.
Mitre, Lavvi e Even decepcionam
Na contramão, empresas como Mitre (MTRE3) e Lavvi (LAVV3) apresentaram números que levaram o Itaú BBA a adotar uma posição neutra. Já a Even (EVEN3) teve avaliação negativa, com desempenho aquém das expectativas e menor tração em vendas.
Setor mostra fôlego em meio à incerteza
Em um trimestre ainda impactado por fatores macroeconômicos e incertezas externas, o setor de construção civil mostrou resiliência, especialmente entre as companhias com maior exposição ao MCMV e boa execução operacional. A leitura do Itaú BBA indica que, mesmo com oscilações em algumas métricas, as principais construtoras seguem entregando crescimento consistente — e, em alguns casos, superando projeções em um ambiente desafiador.