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O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu nesta quarta-feira (6) elevar a taxa básica de juros (Selic) em 50 pontos-base, para 11,25% ao ano, destacando a necessidade de um ciclo mais intenso de aperto monetário diante da persistência inflacionária. Especialistas indicam que títulos atrelados à inflação permanecem atraentes, enquanto o cenário para a renda fixa privada se torna mais complexo.
Em uma live, Camilla Dolle, head de Renda Fixa no Research da XP, afirmou que, com o aumento esperado da Selic, os títulos pós-fixados atrelados à taxa seguem interessantes para reservas de emergência. “Temos uma expectativa de aumento da Selic, o que deve favorecer esses títulos em rentabilidade ao longo do tempo”, disse. Ela também ressaltou que há títulos pagando IPCA + quase 7% ao ano, tornando-os uma opção atrativa.
Pressão Inflacionária e Projeções do Copom
O comunicado do Copom aponta para riscos inflacionários no cenário nacional, como a resiliência da inflação de serviços e a possibilidade de uma taxa de câmbio depreciada, fatores que podem manter a inflação elevada. Alexandre Maluf, economista da XP, comentou que o comunicado reitera a preocupação do Banco Central com as previsões de inflação, especialmente para o segundo semestre de 2026.
A XP revisou sua projeção para a Selic, agora prevendo uma taxa de 13,25% em maio de 2025, seguida por uma estabilização antes de possíveis cortes no final do ano, com a expectativa de fechar em 12,25% em dezembro de 2025.
Impacto para Títulos de Renda Fixa Privados
A alta na Selic reduz a diferença de rentabilidade entre títulos públicos e privados, como debêntures, dificultando o cenário para investidores que buscam alternativas na renda fixa privada. Patrícia Palomo, head de Operações de Investimentos da UNICRED, destaca que a demanda por esses ativos apertou os prêmios em relação aos títulos do Tesouro, que são considerados livres de risco. “É essencial considerar o spread e o risco oferecido ao escolher investimentos”, diz Palomo, observando que empresas alavancadas enfrentam mais riscos com a alta dos juros.
Federal Reserve, Política Fiscal e Fluxo de Capital Estrangeiro
Nesta quinta-feira (7), o Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos também define sua política monetária, com expectativas de um corte nos juros, em contraste com o aperto promovido pelo Copom. Essa divergência pode atrair fluxo de capital estrangeiro para o Brasil, devido ao aumento no diferencial de taxas. No entanto, a incerteza quanto à política fiscal brasileira ainda limita essa entrada de capital.
Alexandre Maluf observa que, embora a vitória de Donald Trump nas eleições americanas não deva impactar diretamente o Brasil, a política fiscal nacional é uma preocupação maior no curto prazo. “O Real teve um desempenho relativamente bom hoje, mesmo com o fortalecimento do dólar e a queda das moedas emergentes, porque nossos desafios fiscais são mais relevantes internamente”, concluiu Maluf, destacando a expectativa do mercado em relação às medidas de corte de despesas do governo.
A decisão do Copom e as projeções para a Selic indicam um cenário de juros elevados para controlar a inflação, o que traz novas oportunidades e desafios para os investidores brasileiros nos próximos meses.