PIB dos EUA recua 0,3% no 1º trimestre e frustra mercado
O recuo da atividade econômica foi puxado, sobretudo, pelo salto nas importações e pela redução nos gastos do governo

A economia dos Estados Unidos registrou uma contração de 0,3% no primeiro trimestre de 2025, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (30) pelo Departamento do Comércio. O resultado veio bem abaixo do crescimento de 2,4% observado no último trimestre de 2024 e contrariou as projeções de analistas consultados pelo Wall Street Journal, que esperavam uma expansão anualizada de 0,4%.

O recuo da atividade econômica foi puxado, sobretudo, pelo salto nas importações e pela redução nos gastos do governo. As importações subiram impressionantes 41,3%, enquanto os gastos públicos caíram 5,1% — ambos os movimentos com forte impacto negativo sobre o PIB. Por outro lado, o aumento nos investimentos privados, nas exportações e, em menor escala, nos gastos dos consumidores ajudaram a conter perdas mais acentuadas. Ainda assim, o consumo das famílias desacelerou significativamente: após crescer 4,0% no quarto trimestre de 2024, a alta no primeiro trimestre deste ano foi de apenas 1,8%, em termos anualizados.

O desempenho fraco já vinha sendo antecipado por parte do mercado desde a divulgação do déficit recorde da balança comercial de bens em março, que atingiu US$ 162 bilhões. A forte demanda por importações, impulsionada por um movimento de antecipação às tarifas comerciais prestes a entrar em vigor, contribuiu diretamente para o resultado negativo do PIB. Segundo o Morgan Stanley, empresas americanas se apressaram para importar automóveis, bens de consumo e bens de capital, o que provocou distorções relevantes nos dados. Apenas em março, as importações desses grupos cresceram 6,6%, 27,8% e mais de 4%, respectivamente.

O banco, que já previa uma contração mais acentuada — de 1,4% no trimestre —, avalia que o resultado não reflete uma fraqueza estrutural da economia americana, mas sim os efeitos pontuais dessa antecipação tarifária. “A demanda doméstica segue sólida”, apontou a equipe de economistas liderada por Michael Gapen. No entanto, eles também observam que empresas estrangeiras não adotaram a mesma postura, já que as exportações não mostraram a mesma intensidade de avanço.

Além da queda no PIB, os dados mostraram pressões inflacionárias. O deflator dos gastos com consumo (PCE) subiu 3,6% no trimestre, enquanto o núcleo do indicador — que exclui itens voláteis como alimentos e energia — avançou 3,5%, ambos acima do que se desejaria para uma economia em desaquecimento.

O cenário reforça a complexidade do momento econômico dos EUA: apesar da desaceleração do PIB, o consumo segue pressionando os preços, ao passo que políticas comerciais impactam diretamente o ritmo de atividade. Essa combinação deve seguir no radar dos formuladores de política monetária nas próximas decisões do Federal Reserve.

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