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O caso do Banco Master segue movimentando os bastidores do setor financeiro e deve se arrastar por mais algumas semanas. Segundo apuração do jornal O Globo, o Banco Central avalia barrar a operação de compra anunciada pelo BRB — banco estatal controlado pelo governo do Distrito Federal — devido aos riscos envolvidos no negócio. A transação, avaliada em cerca de R$ 2 bilhões, foi anunciada na última sexta-feira (29), mas ainda aguarda o pedido formal de aprovação por parte das instituições envolvidas.
Fontes ouvidas pelo jornal apontam que o Banco Master apresenta dificuldades de captação de recursos e vinha ofertando CDBs com rentabilidades elevadas, de até 140% do CDI, para atrair investidores — prática considerada arriscada e fora do padrão do mercado. Além disso, parte relevante dos ativos do banco envolve precatórios e ações de empresas em situação financeira delicada, o que afastou outros bancos privados que chegaram a sondar a aquisição.
Em nota, o Banco Central afirmou que só se manifestará após o recebimento oficial do pedido de avaliação do negócio. Ainda assim, interlocutores próximos à autoridade monetária indicam preocupação com a falta de sinergia entre as operações do BRB e do Master. Uma das fontes ressalta que, na estrutura atual da operação, o BRB não teria controle total da instituição adquirida — o banco estatal deve comprar 48% das ações ordinárias do Master, o que, somado às preferenciais, representa uma participação de 60%.
BRB nega resgate e defende estratégia de expansão
Em entrevista ao Estadão, o CEO do BRB, Paulo Henrique Costa, defendeu a operação e afirmou que os ativos de alto risco, como precatórios e créditos judiciais, não farão parte da aquisição. Segundo ele, o BRB mapeou cerca de R$ 23 bilhões em negócios que não despertaram interesse do banco. “Quando a gente puder comunicar ao mercado o escopo exato da transação, vai ficar muito claro o quanto esse banco é competitivo, o quanto é tradicional”, disse Costa.
O executivo também rejeitou a narrativa de que a compra seria uma espécie de resgate ao Master. “O BRB é um banco que já vem crescendo muito nos últimos anos. Há o entendimento de que precisamos expandir para fora do Distrito Federal, e alguns negócios exigem parceiros.”
A ascensão do Banco Master e seus riscos
Fundado em 1970 como banco Máxima, o atual Banco Master passou por uma reformulação em 2018, com a chegada do empresário Daniel Vorcaro ao comando. Em 2021, adotou o nome atual e acelerou sua expansão, apostando em crédito pessoal, consignado, banco de investimentos e soluções digitais. Sem agências físicas, a instituição se posiciona como uma alternativa digital no mercado.
Em fevereiro de 2024, o banco anunciou a aquisição do will bank, fintech com mais de 6 milhões de clientes e presença forte no Nordeste. No semestre encerrado em julho, o Master registrou lucro líquido de R$ 501 milhões, crescimento de 72% em relação ao mesmo período de 2023. O retorno sobre patrimônio (ROE) foi de 32%, abaixo dos 34% registrados no ano anterior.
Apesar dos números expressivos, o rápido crescimento da instituição levantou suspeitas no mercado, especialmente pela dependência de ativos de risco e da captação via CDBs com rentabilidades bem acima da média. O banco utilizou o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) como argumento para atrair investidores — prática que passou a preocupar reguladores.
Segundo apuração do Valor Econômico, os depósitos elegíveis do Master representam quase metade da liquidez do FGC, gerando temor de concentração excessiva. De acordo com a Nord Research, cerca de 34% da carteira do banco é composta por títulos e créditos a receber, o que indica um perfil de maior risco em comparação com outros bancos médios, que atuam mais no crédito ao varejo ou empresas.
Diante desse cenário, o Banco Central já havia apertado as normas de captação no ano passado e pode agora avaliar com maior rigor a viabilidade da operação com o BRB.