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O Banco Master apresentou um pedido formal ao Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para viabilizar uma linha de empréstimo que permita rolar cerca de R$ 10 bilhões em dívidas com vencimento nos próximos dois anos. A solicitação ocorre após a cisão e venda parcial de seus ativos ao Banco Regional de Brasília (BRB), que deixou de fora os papéis de maior risco.
Entre os compromissos do Master estão CDBs emitidos com taxas muito acima da média do mercado, o que amplia o desafio da instituição para manter sua liquidez. A expectativa é de que a linha do FGC cubra vencimentos mensais estimados em R$ 500 milhões, enquanto a instituição tenta vender ativos paralelos pertencentes ao controlador Daniel Vorcaro, como participações na Itaminas e na seguradora Kovr.
O banco não se pronunciou sobre o pedido. O FGC, por sua vez, declarou que não comenta assuntos relativos às instituições associadas. Internamente, o fundo avalia que qualquer liberação de crédito só pode ocorrer após o Banco Central autorizar oficialmente a operação de compra do BRB, cuja assinatura está temporariamente suspensa por decisão da Justiça.
Inicialmente, o BRB estimava deixar cerca de R$ 23 bilhões em ativos fora da transação. Com o avanço da auditoria após o anúncio feito em 28 de março, esse valor subiu para R$ 33 bilhões. Isso inclui carteiras consideradas ilíquidas ou arriscadas, como precatórios, ações de empresas em recuperação judicial e dívidas de longo prazo.
Fontes próximas às negociações afirmam que a estratégia do Master é ganhar tempo para negociar a venda de ativos com potenciais interessados, como a J&F, do grupo Batista; o BTG Pactual; e os fundos Pátria e Latache. O argumento é que o apoio do FGC funcionaria como um empréstimo emergencial, não uma ajuda irrestrita — e evitaria um colapso que poderia gerar ainda mais prejuízo ao próprio fundo, acionado para ressarcir investidores em caso de quebra.
A resistência ao socorro ao Master partiu principalmente do Itaú e de outros grandes bancos, que apontam risco moral ao apoiar uma instituição que cresceu de forma acelerada oferecendo rendimentos muito acima do padrão do setor, amparada por um seguro bancário coletivo.
Nesta quinta-feira (8), o presidente do Master, Daniel Vorcaro, reuniu-se com o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, e com o diretor de Regulação, Gilneu Vivan, para tratar do tema. Foi o terceiro encontro entre Vorcaro e Galípolo desde o início das tratativas para venda.
O escopo final da operação prevê que cerca de R$ 43 bilhões em ativos sejam absorvidos pelo BRB, que criará uma subsidiária voltada ao mercado de investimentos. Outros R$ 7 bilhões devem ficar com o Banco Voiter, liderado por Augusto Lima, sócio de Vorcaro. Já os R$ 33 bilhões restantes — considerados mais difíceis de precificar e negociar — continuam sob responsabilidade do próprio Master.
Ao final de 2024, o conglomerado Master tinha R$ 82 bilhões em ativos registrados no Banco Central. A solução do imbróglio, agora, depende da liberação do BC e da eventual aprovação de suporte emergencial por parte do FGC.