Com banco de montadora e moto elétrica chinesa Shineray inaugura nova fase no Brasil
A expectativa é que a nova estratégia ajude o grupo chinês a alcançar de 3% a 5% das vendas totais

A montadora chinesa Shineray adotou uma nova estratégia para alavancar o volume de vendas no Brasil, com aposta em modelos elétricos, facilitação do crédito e lojas de fábrica, voltadas a um público de maior renda. Parte de um conglomerado industrial que produz de carros a máquinas agrícolas na China, a marca atua há mais de 15 anos no País, nos segmentos de motos e scooters.

Com modelos populares e tradição em baixas cilindradas, voltadas principalmente para área urbana, a empresa tem fábrica em Pernambuco, com capacidade de produzir 700 mil unidades por ano, e ocupa a quarta posição no ranking de emplacamentos de motos no acumulado até maio deste ano, segundo dados da Fenabrave (Federação Nacional de Distribuidores de Veículos). Ainda assim, tem cerca de 1% do mercado, com 4,2 mil unidades vendidas no período. O segmento é dominado pelas japonesas Honda e Yamaha, com mais de 90% de participação.

A expectativa é que a nova estratégia ajude o grupo chinês a alcançar de 3% a 5% das vendas totais de motos no Brasil, um mercado de cerca de 1 milhão de unidades/ano.

Crédito como motor de crescimento

O principal motor para o crescimento será o crédito. A marca se associou ao Santander para lançar o seu banco de montadora e oferecer condições facilitadas aos clientes. O braço financeiro é peça-chave para o negócio de motos, em que cerca de 40% das vendas são financiadas.

Com prazos de até 60 meses e taxas a partir de 0,99% ao mês, a empresa espera conseguir aprovação de crédito para quem hoje não se enquadra no perfil. “Às vezes, por conta de uma besteirinha, o cliente não tem o crédito aprovado”, afirma José Edson Medeiros, sócio-diretor da Shineray do Brasil. “Tem muito cliente em prospecção que está em análise de cadastro. Quando tem um banco financiador de fábrica, muda completamente o cenário.”

Os bancos de montadora permitem às empresas oferecer taxas subsidiadas e criar campanhas para produtos específicos. Também são um impulsionador para o crescimento da rede de concessionárias, com linhas especiais para financiamento de estoque. A ferramenta é vista como essencial para as marcas que atuam no Brasil e pode envolver a parceria com bancos quando o grupo não possui o negócio próprio. A Shineray é a 16º operação do tipo feita pelo Santander. Os parceiros incluem as chinesas Chery (carros) e Foton (caminhões).

“Crédito de motos no Brasil sempre foi mais complexo”, afirma o diretor da Santander Financiamentos, André Novaes. Ele cita como desafios garantias que são mais difíceis de executar e a diferença em relação aos carros, em que o usado costuma ser usado como entrada. “Se (a empresa) não consegue ter um modelo de crédito adequado ao cliente de moto, muitas vezes não consegue vender.”

Um dos pontos que chamaram a atenção do banco é o potencial de crescimento da marca no Brasil, considerando o porte da empresa na Ásia, além da aposta da montadora em elétricos, em linha com a visão do Santander de avançar com oferta de crédito em segmentos sustentáveis. Segundo Novaes, a parceria deve evoluir ainda para a oferta de novos produtos, como seguros, por exemplo.

Lojas de fábrica

Em sintonia com o movimento de outras chinesas, a Shineray lançou recentemente uma linha de motos elétricas no Brasil. Os modelos devem ser o principal atrativo das lojas de fábrica que a marca vai inaugurar, uma tentativa de ampliar o alcance dos produtos nas classes A e B. A unidade-piloto foi aberta em Recife, e o plano é levar o formato a todos as capitais, como complemento às mais de 200 revendas atuais.

A ideia é atrair um público preocupado com a questão de sustentabilidade e que faça o uso das motos para mobilidade urbana. Até então, a marca tinha uma atuação em segmentos mais populares e acabou se beneficiando também do aumento da procura por motos para atender o avanço do delivery. A expectativa é crescer ao menos 30% neste ano. Os modelos têm preços que variam entre R$ 4.990 e R$ 11.990.

A parceria entre a chinesa e o Santander segue outro anúncio semelhante feito no segmento. A startup brasileira Voltz, de motos elétricas, recebeu um aporte de R$ 100 milhões com participação da fintech Creditas, que deve ajudar a companhia a criar condições especiais de financiamento.

“O mercado brasileiro se move a crédito”, afirma Milad Kalume Neto, diretor da consultoria Jato Dynamics. “Quando a montadora vai criando corpo dentro do mercado, um dos caminhos é estabelecer o parceiro de financiamento.” Segundo ele, a parceria é importante também porque permite garantir a adesão dentro do próprio concessionário. “É estratégico estar dentro desse mercado com taxas subsidiadas.”

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