Conflito tarifário EUA-UE coloca em risco US$ 9,5 trilhões em negócios, alerta AmCham
A AmCham EU, que representa mais de 160 empresas, enfatizou que a relação comercial entre os blocos nunca esteve tão forte

O aumento das tensões comerciais entre Estados Unidos e União Europeia ameaça comprometer negócios transatlânticos avaliados em 9,5 trilhões de dólares anuais, alertou a Câmara de Comércio Americana para a UE (AmCham EU) em seu relatório divulgado nesta segunda-feira (17). O documento destaca que, apesar de o comércio entre as duas regiões ter atingido níveis recordes em 2024, as novas barreiras tarifárias podem gerar impactos severos em diversos setores da economia global.

A AmCham EU, que representa mais de 160 empresas, incluindo gigantes como Apple, ExxonMobil e Visa, enfatizou que a relação comercial entre os blocos nunca esteve tão forte. Em 2024, o comércio de bens e serviços entre Estados Unidos e União Europeia alcançou 2 trilhões de dólares, consolidando-se como o maior fluxo bilateral do mundo. No entanto, as crescentes disputas tarifárias lançam incertezas sobre a continuidade desse crescimento.

A perspectiva para 2025, segundo o relatório, é marcada tanto por oportunidades quanto por riscos. Na última semana, os Estados Unidos impuseram tarifas sobre aço e alumínio europeus, enquanto a União Europeia anunciou medidas de retaliação. Além disso, o ex-presidente Donald Trump, que busca retornar ao cargo, ameaçou impor tarifas de 200% sobre vinhos e destilados da UE, intensificando ainda mais as tensões.

Trump tem sido um crítico frequente do déficit comercial dos EUA no comércio de bens com a União Europeia, embora os Estados Unidos apresentem superávit no setor de serviços. Ele já incentivou fabricantes estrangeiros a transferirem sua produção para território americano, alegando que essa mudança reduziria o impacto das tarifas e fortaleceria a economia dos EUA.

No entanto, a AmCham EU ressaltou que o comércio de bens representa apenas uma parte da atividade econômica transatlântica. O verdadeiro motor dessa relação, segundo a entidade, é o investimento direto entre os dois blocos.

"Ao contrário do que muitos acreditam, a maior parte dos investimentos dos EUA e da Europa ocorre entre si, em vez de ir para mercados emergentes de menor custo", destacou o relatório.

Os números reforçam essa tendência: as vendas das subsidiárias estrangeiras de empresas americanas na Europa são quatro vezes maiores do que as exportações diretas dos EUA para o continente. Da mesma forma, as empresas europeias vendem três vezes mais dentro dos EUA do que exportam diretamente para o mercado americano. Esse nível de integração econômica evidencia o quão prejudicial uma guerra comercial prolongada pode ser para ambos os lados.

O documento alerta para os impactos colaterais do conflito, que podem comprometer cadeias produtivas essenciais e gerar instabilidade nos investimentos. O principal autor do estudo, Daniel Hamilton, destacou que setores fortemente integrados, como o comércio intraempresarial, podem ser particularmente afetados. Esse tipo de transação representa cerca de 90% do comércio da Irlanda e 60% do comércio da Alemanha, evidenciando a forte dependência dessas economias do livre fluxo de bens e serviços entre os blocos.

Além disso, Hamilton ressaltou que os impactos podem se espalhar para outras áreas além do comércio de bens, atingindo serviços, fluxos de dados e até mesmo o setor energético. A Europa, por exemplo, depende das importações de gás natural liquefeito (GNL) dos EUA, e qualquer escalada na disputa pode levar a custos mais altos e instabilidade no abastecimento.

"Os efeitos cascata desse conflito comercial não ficarão restritos ao comércio de bens. Eles se espalharão por todos os setores da economia, e as interações entre esses impactos são extremamente relevantes", alertou Hamilton.

Outro ponto sensível destacado pelo relatório é a interdependência das cadeias de valor entre empresas norte-americanas e europeias. Muitas companhias operam em mercados integrados para maximizar a eficiência e a competitividade global. Um exemplo citado é o da BMW, que exporta veículos fabricados nos Estados Unidos para diversos mercados ao redor do mundo. Caso as tarifas se tornem um obstáculo significativo, essas operações podem se tornar menos viáveis economicamente.

"Não acredito que veremos investimentos completamente isolados entre os blocos. Mas esse cenário de incerteza apenas tornará tudo mais ineficiente", concluiu Hamilton.

A escalada do conflito tarifário entre Estados Unidos e União Europeia representa, portanto, uma ameaça não apenas ao comércio direto entre os dois blocos, mas também à estabilidade das relações econômicas globais. As empresas de ambos os lados terão que se preparar para um cenário incerto, no qual as decisões políticas podem impactar profundamente suas estratégias de mercado e investimentos futuros.

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