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A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central sobre a taxa de juros, prevista para ser divulgada nesta quarta-feira (19), tem deixado o mercado na expectativa e em compasso de espera. Especialistas estão atentos aos sinais que o comitê dará sobre os rumos da política monetária em meio a um cenário de alta da inflação e volatilidade cambial.
Marcelo Bolzan, CGA, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital, acredita que o Copom interromperá o ciclo de cortes na Taxa Selic, mantendo-a em 10,50% ao ano. "Desde a última reunião do comitê, quando houve dissenso na decisão, observamos uma piora dos balanços de riscos, e o desafio do Banco Central aumentou em convergir a inflação para a meta em 2025", comentou Bolzan. Ele destacou que a recente alta do dólar para R$ 5,40, o aumento dos juros futuros e a desancoragem das expectativas de inflação complicam ainda mais o cenário. "O Focus divulgado hoje já projeta inflação de 3,96% ao final de 2024 e 3,80% ao final de 2025", ressaltou.
Bolzan explicou que tanto o cenário externo quanto o interno contribuem para essa volatilidade. Nos Estados Unidos, as expectativas de juros mais altos por mais tempo continuam atraindo fluxos de recursos em detrimento dos mercados emergentes, como o Brasil. "No Brasil, a inflação medida pelo IPCA apresentou aceleração em maio, interrompendo a tendência de melhora dos núcleos de inflação. Vimos o avanço de 0,46%, acima da mediana do mercado que era 0,42%", detalhou Bolzan, atribuindo os maiores impactos aos grupos de Alimentação & Bebidas e Habitação. Ele ainda destacou a piora na percepção das contas fiscais e questões sobre a credibilidade da política monetária como fatores que contribuem para a desancoragem adicional das expectativas de inflação.
Nicolas Gass, CGA, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital, compartilha uma visão similar. "A expectativa sobre a decisão do Copom nessa quarta-feira é que devemos ter uma estabilidade na taxa básica de juros, em 10,5%", afirmou Gass. Ele observa que a decisão de manutenção de juros também foi vista nos Estados Unidos, onde as taxas foram mantidas, influenciando a política monetária brasileira. "A previsão que tínhamos de fecharmos o ano aqui no Brasil em uma taxa terminal de 9, 9,5% dependia muito dos Estados Unidos diminuindo a taxa deles a partir de maio", explicou Gass, destacando que o cenário atual é bem diferente e justifica a manutenção dos juros no patamar atual.
Gass também mencionou a preocupação com o cenário fiscal brasileiro, apontando a recente resistência à MP do Pis/Cofins e a incerteza sobre como o governo compensará a desoneração da folha, que representa um déficit de cerca de 26 bilhões de reais. "O fiscal preocupa bastante e a gente pode ver isso nas falas do próprio Campos Neto", acrescentou.
Para Bolzan, o comunicado do Copom deve adotar um tom mais hawkish. "Acredito que o comunicado terá um tom hawkish que o momento necessita, em função da piora do balanço de riscos", afirmou Bolzan, enfatizando que o Copom deve manter uma postura de deixar a porta aberta para futuros cortes de juros, dependendo dos dados econômicos subsequentes.
Gass vê um possível corte adicional de 0,25% até o fim do ano caso o cenário externo se torne mais favorável, mas considera que o mais provável é que os juros permaneçam em 10,5% até o final de 2024. "Eu acredito que a gente vai manter o patamar atual e fechar o ano de 2024 em 10,5% com um Banco Central mais cauteloso", concluiu.
Cassiana Garcia, planejadora financeira e sócia da The Hill Capital, ressalta que, com a decisão, a renda fixa continuará atrativa, pois os juros permanecem altos. “O cenário de incerteza econômica e política fiscal faz com que os investidores procurem mais segurança em seu portfólio. No final do ano passado, os fundos exclusivos passaram a ter tributação de come-cotas, deixando de ter o benefício fiscal de diferimento de imposto, dado que a cobrança de imposto se dava apenas no resgate. Com isso, muitos fizeram uma migração para os títulos de renda fixa isentos de imposto, que trazem um retorno ainda melhor para esse investidor, dado que o nível de juros atual no Brasil é atrativo”, explica.
Garcia destaca os títulos de IPCA atrelados a taxas prefixadas, que hoje estão acima de 6%. “Além de ser um título que traz proteção contra a inflação, com um retorno significativo acima da inflação, proporciona a segurança que o investidor busca em um cenário de incertezas e aumento de percepção de risco, por ser garantido pelo Governo”, diz. Ela também destaca que, fora os títulos públicos, há ainda os títulos privados, isentos de imposto. “Sugiro sempre títulos de renda fixa, isentos de imposto como debêntures incentivadas, CRIs, CRA,s, LCIs e LCAs com baixo risco de crédito”, comenta.
Ana Paula Carvalho, planejadora financeira e sócia da AVG Capital, ressalta que as incertezas no cenário externo se deterioraram nos últimos meses com questões relacionadas às decisões de juros do FED e geopolíticas em alguns países produtores de petróleo. Aqui no Brasil, segundo ela, os fortes dados de atividade econômica, em especial, o mercado de trabalho e a composição da inflação sugerem maior cautela da política monetária, além de um cenário fiscal bastante preocupante e a deterioração nas expectativas de inflação.
“Para o investidor com perfil mais arrojado, dada uma forte abertura nas curvas de juros futuras, surgiram boas oportunidades em ativos prefixados e em papeis que pagam IPCA + juros com vértices mais longos. Já para os investidores com perfil conservador, os papeis pós-fixados com prazos de até dois anos continuam sendo boas opções com preferência para ativos isentos”, explica.
Kaique Fonseca, especialista em mercado de capitais e sócio da A7 Capital, acredita que os títulos prefixados curtos estão com prêmio interessante e ainda possuem risco baixo por serem ativos de curto prazo. “A volatilidade desse título é menor, e na nossa opinião, o risco de inflação, que é o risco sempre de se aplicar prefixado, está bastante mitigado, então prefixado curto, na nossa opinião, e os indexados à inflação de médio prazo ali, de 2028 a 2032, são ótimas opções, pois além de garantir proteção da inflação, contrata um belíssimo prêmio, de mais de 6% de juros real”, comenta.
Para os juros caírem, Fonseca acredita que o primeiro ponto é o fiscal se readequar, ou seja, que as contas públicas sejam uma prioridade, e não só via arrecadação, que é como vem sendo feito com o governo. “Na minha opinião, gastar menos é mais eficiente, então hoje o governo vem gastando bastante. Para a gente isso é penoso para a economia, então se o governo se preocupar mais em gastar menos, isso com certeza ajuda as contas públicas, que vai auxiliar as taxas de juros", afirma. Outro ponto, segundo ele, é o Banco Central se mostrar de fato um Banco Central técnico e independente sem influências externas. Além disso, o mercado está atento ao cenário lá fora. “Se os EUA entram em uma recessão e o Banco Central lá fora tem que cortar juros, isso também aliviaria aqui os nossos juros no Brasil”, diz.