Dinâmica fiscal expansionista do governo pode dificultar estabilização da dívida pública, aponta relatório da XP
No relatório, os economistas da XP mantiveram algumas previsões, como a elevação da taxa Selic pelo Comitê de Política Monetária (Copom) para 12%

A equipe macroeconômica da XP Investimentos destacou, em seu relatório “Macro Mensal”, que a estratégia expansionista fiscal e parafiscal do governo pode evidenciar que as regras fiscais atuais não serão suficientes para estabilizar a relação entre dívida pública e PIB. Além disso, o aquecimento da atividade econômica no curto prazo está gerando preocupação em relação à inflação futura.

No relatório, os economistas da XP mantiveram algumas previsões, como a elevação da taxa Selic pelo Comitê de Política Monetária (Copom) para 12%. A projeção para o PIB foi mantida em alta de 3,1% em 2024, com riscos de elevação no curto prazo. Já para 2025, a XP indica um crescimento econômico contínuo, com uma expectativa de 1,8% no PIB, sem sinais de desaceleração significativa.

Inflação em alta e Selic acima dos 11%

A XP também revisou para cima suas projeções para a inflação, destacando que o alívio no curto prazo tende a ser temporário diante de fundamentos desafiadores como a baixa ociosidade na economia, problemas climáticos e uma taxa de câmbio mais depreciada. "Elevamos nossa projeção para o IPCA de 2024, de 4,4% para 4,6%, devido à maior pressão sobre a energia elétrica. Para 2025, projetamos inflação de 4,1%, ante os 4,0% anteriores, principalmente por ajustes nos preços das proteínas", apontam os economistas.

O Itaú Unibanco também realizou uma revisão de cenário semelhante, destacando a piora na transparência fiscal. A expectativa do banco para o PIB foi elevada de 3,0% para 3,2% em 2024, enquanto a projeção para a inflação passou de 4,2% para 4,4%, refletindo a incorporação da bandeira tarifária amarela em dezembro e as recentes altas nos preços dos alimentos.

No que diz respeito à taxa Selic, a XP prevê que o ciclo de alta levará a uma taxa de 12% ao ano no início de 2025, após alcançar 11,75% ao ano no final de 2024. O economista Caio Megale, da XP, ressalta que, embora a projeção de Selic terminal esteja em 12%, o risco está inclinado para cima. "O Copom pode continuar a elevar os juros em 2025 caso a inflação acelere no quarto trimestre. Uma apreciação do real, estimulada por fatores como o pacote de estímulos da China, poderia aliviar as pressões inflacionárias, permitindo uma política monetária menos restritiva", explicou.

Riscos no câmbio e projeções para o dólar

Rodolfo Margato, economista da XP, ressaltou que, mesmo considerando uma taxa de câmbio mais apreciada, os riscos persistem. O Research da corretora mantém a projeção do dólar em R$ 5,40, um valor considerado acima do sugerido pelos fundamentos econômicos. "Nossos modelos baseados em fundamentos apontam para uma taxa de câmbio entre R$ 5,00 e R$ 5,20 no curto prazo. No entanto, parte do prêmio de risco embutido nos ativos brasileiros deve ser mais duradouro. Continuamos a projetar R$ 5,40 por dólar para o final de 2024 e para 2025, reconhecendo o elevado grau de incerteza à frente", afirmou.

O Itaú também sustenta a mesma projeção de R$ 5,40 para o final de 2024, mas considera viável que o dólar alcance R$ 5,20 até o fim de 2025.

Contas públicas e resultado primário

O resultado primário acumulado até agosto ficou abaixo das expectativas, com o governo central registrando um déficit de R$ 101,6 bilhões no ano. Mesmo excluindo os R$ 13 bilhões de despesas relacionadas ao Rio Grande do Sul e outras exceções, o déficit ainda é de R$ 88,6 bilhões, valor muito superior ao limite inferior da meta de resultado primário, que é de R$ 28,8 bilhões.

Apesar desse cenário preocupante, Tiago Sbardelotto, economista da XP, vê alta probabilidade de o déficit primário se manter dentro do intervalo da meta. Para atingir esse objetivo, o governo depende de receitas extraordinárias, como a compensação pela desoneração da folha de pagamentos e dividendos de estatais. "Projetamos um déficit primário total de R$ 66,1 bilhões (0,6% do PIB), excluindo exceções, o que colocaria o déficit em R$ 32,2 bilhões (0,3% do PIB), apenas R$ 3,4 bilhões abaixo do limite da meta. Ainda pode ser necessário um pequeno contingenciamento adicional para alcançar o objetivo", ressaltou Sbardelotto.

Em meio a incertezas fiscais e riscos inflacionários, as perspectivas para a economia brasileira permanecem desafiadoras, exigindo um monitoramento atento das políticas monetárias e fiscais no próximo ano.

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