Dívida do Banco Master pode ter crescido quase R$ 1 bilhão desde anúncio de venda
Banco tem R$ 49 bilhões em dívidas de CDBs, de acordo com seu balanço, que são corrigidas a taxas de juros de quase 20% ao ano

Desde que foi anunciada a negociação para venda do Banco Master ao BRB, em 28 de março, a dívida da instituição financeira pode ter aumentado em até R$ 837 milhões — um reflexo direto das altas taxas prometidas aos investidores na emissão de CDBs. O cálculo, feito com base em uma taxa média de 130% do CDI e nos 25 dias úteis desde o anúncio, dá a dimensão da urgência que cerca a operação e do tamanho do risco que pode estar sendo transferido ao sistema financeiro.

Segundo o balanço mais recente divulgado pelo próprio Master, o banco soma R$ 49,24 bilhões em passivos vinculados a “depósitos interfinanceiros” e “depósitos a prazo” — rubricas que incluem, principalmente, Certificados de Depósitos Bancários (CDBs). Em muitas dessas captações, o banco se comprometeu a pagar até 140% do CDI, o que, com a Selic em 14,25% ao ano, representa uma dívida remunerada a até 19,95% anuais.

Para viabilizar esses pagamentos elevados, o Master apostou em ativos de risco, como ações de empresas em dificuldade e precatórios — dívidas da União com pagamento incerto. A estratégia, que visava gerar retorno suficiente para cobrir os passivos caros, acabou ampliando a exposição da instituição a perdas. O crescimento descontrolado da dívida, aliado à incerteza sobre a qualidade dos ativos, transformou o banco em motivo de preocupação para o Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que pode ser chamado a cobrir rombos deixados pela operação.

Em paralelo, o BRB segue sua própria diligência. Em março, o presidente do banco, Paulo Roberto Costa, indicou que cerca de R$ 23 bilhões em ativos do Master ficariam fora da transação. Agora, a cifra subiu para R$ 33 bilhões, segundo fontes ouvidas nos bastidores, com a exclusão de carteiras de crédito consideradas de alto risco, com baixas garantias ou prazos longos demais. O BRB entregou recentemente a documentação complementar ao Banco Central e, nos bastidores, já teria fechado o escopo da operação.

O desafio agora é negociar a chamada “liquidação privada” do que restará do Master. Parte dos ativos não incorporados está sendo oferecida ao grupo J&F com suporte do FGC, o que garantiria o pagamento de parte dos passivos da instituição. No entanto, o banco ainda busca compradores para o restante da carteira.

Uma das grandes dúvidas do mercado é quais passivos o BRB aceitará levar junto com os ativos adquiridos. O acordo firmado entre os bancos permite ao BRB selecionar os ativos que deseja incorporar, mas não explicita quais dívidas virão atreladas. A indefinição sobre essa transferência de responsabilidades aumenta a pressão sobre o cronograma da operação — ainda que o presidente do BRB tenha assegurado a interlocutores que o banco não se deixará pressionar pelo tempo.

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