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Em um cenário de economia superaquecida, expectativas de inflação fora da meta de 3% e uma política fiscal expansionista, economistas recomendam que o Banco Central (BC) sinalize com mais clareza uma aceleração no ritmo de aumento da Selic a partir de novembro. A sugestão foi feita nesta sexta-feira (4 de setembro), durante o primeiro grupo da 97ª reunião trimestral entre economistas de mercado e diretores do BC.
O encontro contou com a participação dos diretores de política econômica, Diogo Guillen; de assuntos internacionais e gestão de riscos corporativos, Paulo Picchetti; e de organização do sistema financeiro e resolução, Renato Dias Gomes. Segundo os presentes, os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) mostraram maior interesse em discutir questões locais do que fatores externos, levantando perguntas sobre as expectativas para a dinâmica do crédito doméstico e as projeções do impulso fiscal.
Pressões inflacionárias e necessidade de um ajuste mais agressivo
De acordo com um dos participantes da reunião, houve consenso de que a atividade econômica do Brasil está cada vez mais forte. Sem uma intervenção mais agressiva do BC, a inflação tende a piorar. “Está muito claro o que o BC deveria fazer diante disso: promover um ciclo de aperto monetário bastante pronunciado e longo para desacelerar a demanda e reduzir os custos”, afirmou o economista.
Este participante expressou uma preocupação ainda maior ao sair do encontro, acreditando que o BC pode precisar entregar um ciclo de elevação de juros mais extenso do que o atualmente precificado na curva de juros, que aponta para uma Selic entre 12,5% e 12,75%. Ele também levantou dúvidas sobre a resposta da próxima diretoria do BC, que será presidida pelo atual diretor de política monetária, Gabriel Galipolo.
Debate sobre credibilidade e impacto na inflação
Durante a reunião, foi discutido se, em um contexto de baixa credibilidade e incertezas fiscais, a desaceleração dos gastos teria um impacto significativo na inflação. Houve um reconhecimento de que haverá uma desaceleração de gastos no próximo ano, mas o consenso é que o efeito só será sentido se houver a implementação de medidas estruturais.
Na opinião de um dos participantes, para que se observe um impacto mais direto nas expectativas de inflação, seria necessário um “duplo ataque”: um aperto da política monetária, combinado com o anúncio pelo governo de medidas para contenção das despesas obrigatórias.
Sinalização de aceleração da alta dos juros
A média das opiniões dos economistas presentes indicou que o ciclo de alta da Selic deveria ser de 1,25 a 1,5 ponto percentual para cima. Analisando as projeções do próprio modelo do BC, parece que o ciclo seria mais significativo do que o indicado pelo relatório Focus. Nesse contexto, houve a sugestão de que o BC deveria deixar mais claro que o ritmo inicial de 0,25 ponto percentual não é o preferido do comitê para o futuro, especialmente se a meta for alcançar uma alta de 1,5 a 2 pontos percentuais.
Nota de crédito soberana e ceticismo do mercado
A elevação da nota de crédito soberana do Brasil pela Moody’s foi apenas mencionada durante a reunião, sem grande destaque. "Ninguém deu muito peso do ponto de vista de sinalização. A própria Moody's deixou claro que é um certo voto de confiança. O mercado parece estar cético e não pretende antecipar movimentos nos preços enquanto as medidas não forem anunciadas", disse uma das fontes presentes no evento.
Com a economia aquecida e pressões inflacionárias à frente, a expectativa é de que o Banco Central precise adotar medidas mais firmes para controlar a inflação, possivelmente acelerando o ritmo de aumento da taxa Selic nos próximos meses.