Empresários pressionam por anúncio de pacote de corte de gastos
Empresários e executivos demonstraram crescente urgência sobre o tema, destacando que cada dia de espera aumenta o senso de urgência para a adoção de medidas efetivas

A demora do governo federal em anunciar o aguardado pacote de corte de gastos tem gerado preocupação entre os empresários, que temem que a falta de ação imediata possa agravar ainda mais o quadro fiscal do país. Durante a Lide Brasil Conferência Lisboa, realizada em Lisboa na última sexta-feira (15), empresários e executivos demonstraram crescente urgência sobre o tema, destacando que cada dia de espera aumenta o senso de urgência para a adoção de medidas efetivas.

Preocupação com a trajetória fiscal e o tempo

Para Isaac Sidney, presidente da Febraban, o Brasil já enfrenta uma situação fiscal insustentável, e a demora em anunciar as medidas de contenção de gastos amplifica a percepção de deterioração das finanças públicas. Sidney destacou a importância de acelerar o ritmo das reformas fiscais, afirmando que o fator tempo é crucial para interromper a trajetória crescente da dívida pública.

"A direção do Brasil está correta, mas precisamos de um ritmo mais forte na contenção do gasto público. A demora amplifica a percepção de piora fiscal, e o tempo é essencial para interromper a trajetória da dívida", afirmou Sidney.

O presidente da Febraban sugeriu a necessidade de mais cortes nos gastos obrigatórios, a redução das vinculações e a aplicação das regras do arcabouço fiscal para lidar com as despesas. Segundo ele, uma ação rápida traria uma resposta igualmente positiva.

Impactos nas empresas e no planejamento para 2025

Hélio Costa, presidente do conselho de administração da Light, acredita que a solução será anunciada em breve, mas destacou que o impacto do atraso já começa a ser sentido pelas empresas, que estão iniciando o planejamento para 2025. Ele enfatizou que as empresas necessitam de clareza sobre o nível dos cortes e a adequação das medidas para atender às necessidades do governo. Costa também reconheceu a complexidade do processo, observando que, sem o apoio do Congresso, será difícil realizar um ajuste fiscal robusto.

"Se o Congresso não contribuir, não há jeito. Não adianta o governo tentar fazer ajustes sem a participação do Legislativo", afirmou Costa, que foi ministro da Comunicação durante o governo de Lula.

Expectativa e insegurança no mercado

A ansiedade do empresariado aumentou quando, no início deste mês, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, cancelou uma viagem à Europa para priorizar o anúncio das medidas. No dia 4, Haddad havia afirmado que as medidas estavam prontas e que o anúncio seria feito naquela semana. No entanto, em declarações mais recentes, ele indicou que a divulgação depende da decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Para Marco Stefanini, fundador da Stefanini, a demora no anúncio do pacote tem efeitos negativos, não só pela incerteza, mas também pela falta de eficiência no uso dos recursos públicos. Stefanini acredita que os cortes de gastos poderiam resultar em uma redução dos juros e maior investimento social, mas, enquanto a expectativa não se concretiza, o país perde.

"O governo e a sociedade acabam perdendo, porque na economia você vive de expectativa. Com juros altos, se gasta mais com os juros e, consequentemente, menos com investimentos sociais", afirmou o empresário.

Roberto Vilela, CEO da RV Ímola, que atua no setor de logística de produtos de saúde, também expressou preocupação com os efeitos da incerteza. Ele afirmou que a espera pela definição do pacote de ajustes prejudica a economia, gerando oscilações no mercado financeiro e afetando o valor do dólar.

"É uma insegurança para todo mundo, principalmente para o mercado. Não se sabe o que vai ocorrer. Por enquanto, não cortaram nada", disse Vilela.

O desafio do ajuste fiscal

O atraso no anúncio do pacote de corte de gastos reflete o desafio do governo em implementar uma reforma fiscal que atenda às exigências do mercado e assegure a sustentabilidade fiscal do país. Enquanto a pressão cresce, o empresariado aguarda respostas concretas para ajustar seus planos e contribuir para um cenário de estabilidade econômica.

redacao
Conta Oficial Verificada