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A vitória de Donald Trump nas eleições dos EUA e a promessa de um governo mais protecionista colocam o Brasil em uma posição de risco para futuras restrições comerciais, segundo um estudo do Global Trade Alert (GTA). Embora o Brasil tenha déficit no comércio com os EUA, o país é considerado um dos 14 mais vulneráveis a investigações de práticas comerciais desleais pela administração americana. As novas políticas, especialmente com uma maioria republicana no Congresso, podem intensificar as barreiras comerciais para o Brasil.
Principais Indicadores de Risco para o Brasil
O estudo, conduzido por Simon Evenett, diretor do GTA e professor de comércio internacional na Universidade de St. Gallen, aponta cinco critérios comuns usados pelos EUA para identificar parceiros comerciais de risco, que incluem superávit comercial elevado e políticas que afetam exportações americanas. O Brasil acumula três dessas “bandeiras vermelhas”:
- Taxa de câmbio vantajosa em relação ao dólar, com uma diferença de poder de compra superior a 5% desde 2019.
- Medidas comerciais que favorecem empresas brasileiras em detrimento das americanas, colocando em risco mais de US$ 10 bilhões em exportações dos EUA.
- Preocupações comerciais documentadas no Relatório de Estimativa Comercial Nacional dos EUA de 2020.
Esse cenário reflete o risco de uma "guerra comercial" que pode afetar exportações brasileiras e aumentar as pressões sobre o setor produtivo, especialmente no agronegócio e em indústrias de alta tecnologia.
Impacto nos Setores e Ameaça ao Comércio Internacional
A análise do GTA também identifica os setores mais expostos ao protecionismo americano. Entre os mais vulneráveis estão os fornecedores de veículos, motores, hardware de computador e dispositivos médicos — áreas em que a política de "America First" de Trump busca aumentar a produção local e reduzir a dependência estrangeira. Em contraste, setores como petróleo, farmacêuticos, baterias, telecomunicações e semicondutores enfrentam menor risco, dado o peso estratégico desses produtos para a economia americana.
O GTA ressalta que o comércio internacional está se fragmentando, com muitos países buscando reduzir sua dependência do mercado dos EUA. Com o Brasil na “zona amarela” de risco, a diversificação para outros mercados pode ajudar o país a compensar eventuais perdas. No entanto, o estudo sugere que, até 2028, o Brasil pode precisar ajustar suas parcerias comerciais para sustentar o crescimento.
Resposta dos BRICS e Opções para o Brasil
Com o avanço do unilateralismo, o grupo BRICS — que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — pode acelerar iniciativas para fortalecer o comércio intra-bloco e aumentar o uso de moedas locais, reduzindo a exposição ao dólar. Essa estratégia pode ser uma resposta ao protecionismo de um possível segundo governo Trump e ajudar os emergentes a mitigar os impactos econômicos globais.
O cenário exige atenção às políticas comerciais que podem atrair sanções americanas e a necessidade de estratégias para proteger exportações brasileiras.