Views
O IBGE confirmou na manhã desta terça-feira a aceleração da inflação ao consumidor em maio. O IPCA avançou de 0,38% em abril para 0,46% no mês passado, puxado pelos grupos de Alimentos e Bebidas, Habitação e Saúde e Cuidados Pessoais. O resultado veio acima da projeção de 0,42% do mercado.
Se a expectativa do mercado antes da divulgação do dado era de que o IPCA de maio teria um impacto secundário na reunião de política monetária do Copom na semana que vem, devido ao colegiado observar a expectativa de inflação para 2025 e 2026 em meio ao ruído fiscal com uma economia brasileira aquecida - além da expectativa de adiamento do início do corte de juros pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) -, a composição do IPCA do mês passado acabou chancelando o fim ou uma interrupção do ciclo de cortes da Selic iniciado em agosto do ano passado.
Apesar de que uma leitura rápida pudesse apontar que a aceleração do IPCA veio devido à elevação de preços administrados - ainda em abril - como medicamentos, planos de saúde e energia elétrica, seus efeitos junto com a força da alta de Alimentos e Bebidas foram sentidos em outros grupos, especialmente serviços. Os preços administrados desaceleraram de 0,74% em abril para 0,55% mês passado, mas serviços tiveram uma forte aceleração de 0,05% para 0,4%.
Vale ressaltar que o principal vetor da inflação de serviços é o mercado de trabalho, no qual a taxa de desemprego está em queda e a massa salarial na máxima histórica. A dinâmica de preços no setor de serviços está se tornando preocupação na avaliação das causas inflacionárias pelo Copom.
Na ata da última reunião e em declaração ontem do presidente do Banco Central (Bacen) Roberto Campos Neto, há menções sobre a possibilidade do mercado de trabalho aquecido impulsionar a inflação de serviços, embora não houvesse evidência empírica. Com o fim do forward guidance na última reunião e a sinalização de que as próximas decisões serão baseadas em dados, o IPCA de maio deve reforçar o tom hawkish do comunicado e da ata, e os investidores devem ficar atentos sobre a interpretação do colegiado sobre a relação da inflação de serviços e mercado de trabalho.
Em relação ao Rio Grande do Sul, a tragédia das chuvas levou o IPCA de Porto Alegre a ser o maior entre as regiões metropolitanas pesquisadas. A alta foi de 0,87%, contra 0,63% em nas regiões metropolitanas de São Luís e Belo Horizonte.
Por Leandro Manzoni, analista de economia