Juros altos e endividamento crescente comprometem capacidade de pagamento das empresas
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A crise atinge empresas de todos os setores e tamanhos, mas tem um impacto mais severo sobre os negócios de menor porte

As empresas brasileiras estão novamente enfrentando um ciclo de alto endividamento e dificuldades financeiras, após um breve período de alívio. De acordo com levantamentos de consultorias especializadas em reestruturação corporativa, a maior parte das companhias do país passou a última década em dificuldades para honrar compromissos, com poucos momentos de respiro. Com a manutenção dos juros elevados e a previsão de um crescimento econômico mais modesto para os próximos anos, especialistas apontam que a tendência é de agravamento da situação, especialmente diante das incertezas provocadas pelas guerras tarifárias iniciadas nos Estados Unidos.

A crise atinge empresas de todos os setores e tamanhos, mas tem um impacto mais severo sobre os negócios de menor porte. Um estudo da consultoria financeira Sêneca Evercore mostra que 120 empresas de capital aberto com baixa liquidez na Bolsa precisariam de quase três vezes sua geração de caixa anual para quitar suas dívidas. Esse índice estava em torno de duas vezes em 2021 e 2022, demonstrando uma piora significativa no cenário financeiro dessas companhias. Além disso, o índice de cobertura – que mede a capacidade da empresa de pagar apenas os juros da dívida – caiu de 2,6 em 2021 para 1,4 em 2024, reforçando o comprometimento das finanças dessas organizações.

Outro levantamento, feito pela empresa de reestruturação RK Partners, analisou 307 empresas listadas na Bolsa e revelou que 25% delas já não conseguem arcar com seus custos financeiros. Além disso, quase metade dessas companhias (47%) apresenta um nível de endividamento considerado crítico, com dívidas líquidas entre três e seis vezes maiores que sua geração de caixa. Segundo Ricardo Knoepfelmacher, sócio da RK Partners, qualquer empresa com um endividamento superior a 2,5 vezes a geração de caixa já é considerada altamente alavancada no atual cenário de juros elevados.

O histórico de dificuldades financeiras das empresas brasileiras remonta à última década. Apenas no fim do governo Temer e no período pós-pandemia, quando os juros estavam baixos e o PIB apresentava crescimento, as companhias tiveram um certo alívio. De 2014 para cá, a média de empresas com alta alavancagem foi de 44%, atingindo picos nos momentos mais críticos da crise econômica durante o governo Dilma, quando 35% das companhias estavam impossibilitadas de pagar suas dívidas e 54% apresentavam um alto grau de endividamento.

Muitos negócios aumentaram seu nível de endividamento entre 2020 e 2021, aproveitando a baixa dos juros para realizar aquisições e expandir operações. Entretanto, a rápida elevação da taxa Selic pegou essas empresas de surpresa, tornando a dívida acumulada insustentável. Com isso, os bancos passaram a restringir o crédito, agravando ainda mais a situação financeira das companhias. Dados da RK Partners, com base em informações do Banco Central, indicam que os juros cobrados pelas instituições financeiras sobre empréstimos empresariais aumentaram, em média, 31,4% entre janeiro de 2024 e janeiro de 2025.

Entre os bancos, o Santander foi o que mais elevou suas taxas para empréstimos de capital de giro com prazo superior a um ano, passando de 35,5% para 50,9%, um aumento de 43,3%. O Itaú também aplicou um reajuste expressivo, com uma alta de 43% na taxa de juros, que saltou de 21,3% para 30,9% no período. Já os bancos públicos, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, foram os que menos encareceram o crédito, com reajustes de 26,6% e 12,8%, respectivamente.

Diante desse cenário, o número de reestruturações e renegociações de dívidas tem crescido significativamente, assim como os pedidos de recuperação judicial e extrajudicial. Segundo um levantamento da RK Partners baseado em dados da Serasa Experian, os pedidos de recuperação judicial de pequenas empresas aumentaram 70% nos últimos dois anos. Para as médias empresas, com faturamento de até R$ 300 milhões ao ano, o crescimento foi de 35%. Já as grandes companhias, que normalmente têm mais acesso a crédito, também sofreram impactos, com uma alta de 8% nos pedidos de proteção contra credores entre o quarto trimestre de 2022 e o mesmo período de 2024.

Especialistas alertam que o agravamento dessa crise ainda não atingiu seu ápice. Os balanços financeiros do quarto trimestre de 2024 devem refletir uma situação ainda mais desafiadora, com um aumento expressivo nas dificuldades das empresas para honrar seus compromissos financeiros.

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