Federações e equipes buscam alternativas para superar crise e engajar fãs

O economista Vinicius Gholmie, 36, trabalhou por 15 anos no mercado financeiro e por hobby consome desde a infância conteúdos esportivos, sobretudo de basquete, futebol, futebol americano e vôlei. Esteve presente nas Olimpíadas de Atlanta-1996, Londres-2012 e Rio-2016, nas Copas da Rússia e do Brasil, além de jogos da NBA e NFL.

Gholmie e três amigos, Rafael Vieira, Mauricio Arima e Carlos Gamboa, lançaram a startup Isportistics, em 2018.

A empresa usa inteligência artificial para editar vídeos de jogos e treinos de acordo com os interesses da comissão técnica (para analisar posicionamento tático da equipe) ou do departamento de marketing, que pode selecionar os melhores momentos e diversos ângulos do lance para abastecer suas redes sociais, por exemplo.

“Oferecemos solução tecnológica para diversificar esse conteúdo bruto [transmissões televisivas ou por streaming] sem necessidade de operadores de imagens. Na Copa São Paulo [2020] entregamos os melhores momentos de 252 partidas de futebol durante 20 dias, utilizando apenas a tecnologia que é autônoma”, diz Gholmie.

A Federação Paulista de Futebol e os times Taubaté (masculino) e Osasco (feminino), ambos na disputa dos playoffs da Superliga de Vôlei, estão entre as entidades que firmaram parceria com a startup.

“O uso da inteligência artificial fará com que o time possa otimizar a entrega de conteúdos para os patrocinadores, fãs e também para a comissão técnica”, diz Thiago Hoffman, gerente de marketing do Taubaté.

O ecossistema de startup, tido como de empresas inovadoras e baseadas em tecnologias, já é bem consolidado em áreas como o setor financeiro, as chamadas fintechs, e vive o boom em saúde (healthtechs) com o isolamento social e ao mesmo tempo com a necessidade de atendimentos médicos por meios virtuais.

A influência no esporte ainda é tímida, embora as soluções entregues por seus produtos, que os empreendedores chamam de dores, são latentes com advento do streaming e do engajamento dos torcedores. Há expectativa que, diante da crise do coronavírus, as entidades e os clubes se movimentem na busca de inovação diante das perdas de receitas com patrocínio e bilheterias.

“As startups são mais ágeis, e a indústria do esporte ainda precisa quebrar paradigmas, assim como o setor da saúde e da educação conseguiram”, diz Pedro Daniel, diretor executivo da EY.

“A principal barreira no esporte é a da convicção de que o clube, historicamente, é vitorioso e sem a necessidade de inovação. Também são por muitas vezes entidades políticas, e dirigentes tendem a ouvir [na maioria das vezes] opiniões que lhe fazem se sentir bem.”

Pedro Daniel é um dos fundadores do Arena Hub, em São Paulo. Idealizado pela EY e a 2simple, o centro de inovação, que funciona em modelo híbrido –por meios digitais e tem o seu espaço físico no Allianz Parque–, conecta entidades esportivas, empresas e startups fomentando parcerias.

O Arena Hub, inaugurado em maio de 2020, reúne hoje mais de 80 startups e 30 entidades esportivas, como o Comitê Olímpico do Brasil, a Federação Paulista de Futebol e a Confederação Brasileira de Basquete.

“As entidades esportivas têm dores em comum e estão passando por transformações na pandemia. Engajamento é a palavra para entidades esportivas. Hoje tem uma gama de entretenimento que compete pela atenção”, diz Leandro Lange, da 2simple e Arena Hub. “Como o basquete, o atletismo, o tênis de mesa e o futsal vai se comunicar com quem gosta desse produto.”

A Fanbase, uma startup com a missão de auxiliar instituições esportivas a reunir informações do seu torcedor e, a partir dos dados, oferecer produtos, venceu em novembro a 1ª edição do desafio Like a Player, promovido pelo Arena Hub em parceria com o Sebrae.

Após experiências, como em organização de eventos (Copa do Mundo-2014) e ativação de patrocínios do Corinthians, o administrador de empresas Rafael Mangabeira fundou a Fanbase ao constatar que o torcedor, quando adquire ingressos e compra produtos do seu time, faz pela internet e em lojas de terceiros.

“É importante essa venda, mas o clube está construindo casa no terreno do vizinho. A entidade lança produtos, mas não sabe como encontrar o seu fã, pois não tem um endereço de e-mail para impulsionar suas campanhas”, diz Mangabeira.

“O Corinthians tem mais de 25 milhões de torcedores, 11 milhões inscritos em suas redes sociais e uma base de fãs que não chega a 110 mil pessoas. Ou seja, o clube conhece 0,3% da sua torcida e não sabe como convidar os 99,7% para suas campanhas comerciais.”

Em sua carteira de clientes, a Fanbase reúne a Confederação Brasileira de Basquete, a StockCar e a Liga Paulista de Futsal.

Em maio do ano passado, a CBB lançou um portal (https://basquete.fanbase.com.br/) para construir a sua base de dados, no qual convida o internauta para responder um questionário com perguntas diversas –nome, número de telefone, e-mail, endereço, profissão, renda salarial, idades dos filhos, além de questões sobre a relação da pessoa com o esporte.

A entidade pretende explorar a base em seu canal de vendas online, que está sendo formatado. São 81,3 mil inscritos. De acordo com Ricardo Trade, diretor de operações da CBB, a meta é atingir 1 milhão até 2022.

“É uma saída incrível para identificarmos nossos fãs com o cadastro completo, um ativo para monetizarmos e trabalharmos ações na comunicação,” falou o dirigente.

Para Daniel Cavalcante da Graça, coordenador de projetos da Liga Paulista de Futsal, a construção de uma base de dados auxilia na hora de prospectar um patrocinador. “A visibilidade não é o principal hoje, o patrocinador também quer ter um engajamento com o nosso público. Então, ele precisa entender o que o fã de futsal consome.”

O Comitê Olímpico do Brasil instituiu em seu congresso olímpico, que será realizado em outubro deste ano, o Prêmio Esporte e Inovação, que irá premiar três projetos com soluções tecnológicas voltados para preparação de atletas ou para gestão de uma organização.

O primeiro colocado receberá R$ 15 mil, além de uma viagem para os Jogos de Paris-2025, o segundo ficará com R$ 10 mil, e o terceiro, R$ 5 mil.

Neste ano de Jogos de Tóquio, o COB e a startup TV Nsports, plataforma de streaming, lançaram o canal olímpico. A ideia era antiga e, segundo Manoela Penna, diretora de comunicação e marketing do comitê, ganhou forma na esteira da pandemia.

A programação foi ao ar no começo de janeiro. Desde então, rendeu à confederação 65 mil usuários cadastrados. “A pandemia acelerou tendências, tivemos que buscar soluções de engajamento com a sociedade”, afirmou Penna. “Tivemos na transmissão do Sul-Americano de Remo recorde de 51 minutos de visualização. No pré-olímpico de handebol, foram 31 mil visualizações e 39 minutos assistidos.”

(Carlos Petrocilo)

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