Petrobras pode rever decisão de não pagar parte dos dividendos extraordinários
O plano da Petrobras prevê o investimento de U$ 102 bilhões entre 2024 e 2028.

Articulações no fim de semana que passaram pela Fazenda e envolveram o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, e o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, podem resultar num entendimento na reunião desta segunda-feira com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em torno da Petrobras. Silveira também esteve com Gilberto Kassab, mas o presidente do PSD diz não ter tratado do tema.

Como a decisão da semana passada foi no sentido de reter a distribuição de 100% dos dividendos extraordinários para os acionistas, este entendimento pode resultar no pagamento de até 50%, como defendeu Prates. Uma reunião da qual Silveira e o ministro Fernando Haddad participarão no Planalto pode vir a selar este entendimento prévio à reunião da tarde.

Este entendimento seria movido pela percepção de que o plano estratégico de investimentos da empresa não depende desta retenção. O plano da Petrobras prevê o investimento de U$ 102 bilhões entre 2024 e 2028. A conta que, tanto a Fazenda quanto conselheiros da Petrobras fazem, é que uma empresa deste porte pode se alavancar em até 2,5 vezes seu Ebitda. Hoje a alavancagem (endividamento) da estatal não chega a 1,5 vez.

A reunião de conselheiros da Petrobras marcada para o início da tarde desta segunda-feira com o objetivo de homologar a chapa do acionista majoritário a ser levada à assembleia de abril pode vir a ser adiada à espera da reunião no Palácio do Planalto sobre a distribuição de dividendos.

A maior resistência a este entendimento, por ora, está no ministro da Casa Civil, Rui Costa. Até aqui, Silveira tem jogado em dobradinha com Costa, mas há esforços no sentido de reaproximá-lo de Prates. Ambos foram colegas no Senado e a indicação de Silveira contou com o apoio do atual presidente da empresa.

Ao longo do fim de semana, que passou em São Paulo onde veio fazer um check-up hospitalar, Silveira recebeu apelos no sentido de amenizar a posição assumida na semana passada. Só assim, estaria formada uma nova maioria no sentido de convencer Lula a avalizar o pagamento de uma parte dos dividendos.

A retenção levou a estatal a perder R$ 55,8 bilhões em valor de mercado na sexta-feira. A estimativa do mercado para a distribuição de dividendos extraordinários, que acabou represada, variava entre R$ 23 bilhões e R$ 42 bilhões. A avaliação é que um recuo do governo levaria a uma rápida recuperação dos seus papéis. Além de frustrar acionistas, a não distribuição de dividendos também frustrou expectativas do Tesouro, que estima perdas de até R$ 15 bilhões com a decisão

A percepção de interlocutores do governo é de que o presidente entrou na reunião da semana passada excessivamente influenciado por Costa. Também colaborou para o desentendimento da semana passada a participação do diretor financeiro da estatal, Sergio Caetano Leite, no encontro no Planalto. Leite teve um posicionamento de enfrentamento com o presidente do conselho, Pietro Mendes, aliado de Silveira, na reunião.

Como foi escolhido por Prates, de quem foi sócio, a postura de Leite acabou por desgastar o presidente da estatal e levá-lo à abstenção na reunião do conselho de administração, da qual participou por celular a despeito de estar na sala ao lado na sede da empresa.

Maior defensor da retenção dos dividendos extraordinários no caixa da Petrobras com o argumento de preservar o plano estratégico da estatal, o ministro da Casa Civil está desgastado pela defesa que tem feito, até aqui, do investimento da Petrobras na petroquímica Unigel, que já recebeu parecer desfavorável do TCU. Rui Costa também tem acumulado sucessivos embates com Fernando Haddad, e municiado Lula na pressão por gastos que comprometeriam a meta de déficit zero estabelecida pela Fazenda para este ano.

(Valor)

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