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As missões à Lua voltaram ao radar da indústria espacial -- no fim de junho, a Índia fez história ao se tornar o primeiro país a pousar uma espaçonave no polo sul do satélite, e a Nasa se prepara para lançar sua missão Artemis II em 2024, seguida da Artemis III, no ano seguinte.
Além disso, países como Japão, Rússia e Coreia do Norte também planejam futuras missões espaciais focadas no satélite. Em meio a essa movimentação, a spacetech Lonestar Data Holdings entra na corrida com uma meta ambiciosa: quer ser a primeira empresa a instalar um data center na Lua.
A tese da startup, fundada em 2018, na Flórida (EUA), chamou a atenção da holding brasileira 2Future, que apoia a empresa desde a fase pré-seed e participou da mais recente rodada seed, em março -- na qual foram levantados US$ 5 milhões --, ao lado das americanas Seldor Capital, The Veteran Fund, Irongate Capital, Atypical Ventures, KittyHawk Ventures e Scout Ventures, esta última liderando a rodada.
Chris Stott, fundador da Lonestar, acredita que a Lua será um dos maiores hubs de atividade científica e comercial do futuro. O plano do executivo consiste em instalar data centers na Lua para garantir a segurança do processamento e armazenamento dos dados gerados por empresas e governos. Ele cita os eventos extremos causados pelas mudanças climáticas e os ataques hackers como as duas principais ameaças aos dados hoje armazenados nos data centers na Terra.
"No ano passado, o rio Reno, na Alemanha, secou e os centros de dados não tinham mais água para sua refrigeração. Todo o sistema de transportes alemão ficou paralisado, ocasionando enormes prejuízos, inclusive de vidas humanas", diz. "Também no ano passado, só na Europa, registraram-se 43 milhões de ataques de hackers. Além disso, cabos de fibra óptica podem ser cortados, ou hackers podem infiltrar os cabos com malwares, que vão contaminar os sistemas de transmissão de dados. E os sites de backup também estão sob ataques. Portanto, tudo está em risco aqui embaixo", afirma.
O executivo diz que entre os clientes da startup estão países membros da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e grandes corporações, mas não revelou nomes. Em novembro, a empresa pretende realizar sua primeira missão de teste -- que, anteriormente, estava programada para setembro, mas foi adiada, segundo Stott, em razão da alta demanda por lançamentos. "Há uma fila enorme para lançar foguetes à Lua", diz.
Em 2021, a Lonestar realizou um primeiro teste com seu datacenter na Estação Espacial Internacional. Agora, a missão prevista para novembro vai enviar dados em um protótipo para testar a capacidade de armazenamento e transferência da Lua à Terra, além da segurança do software e da engenharia utilizada na operação. Para lançar os datacenters à Lua, a Lonestar tem parceria com a Intuitive Machines (IM-2), que organiza as missões lunares, e utiliza voos da SpaceX, empresa do bilionário Elon Musk.
Nessa missão inicial prevista para novembro, a startup vai enviar dados em um protótipo para testar a capacidade de armazenamento e transferência, além da segurança do software e da engenharia utilizada na operação. "No ano que vem, começaremos a construir os centros de dados inteligentes com 16 terabites de armazenamento e um chip resistente à radiação lunar. A partir daí, a ideia é crescer em capacidade de armazenamento progressivamente", diz Stott.
Segundo o executivo, os custos de instalar um software na Lua são mais baixos do que utilizar outras tecnologias fora do planeta Terra. Ele relata que a empresa buscou soluções, por exemplo, na órbita baixa da Terra, mas que ainda assim o custo de instalação de um data center na Lua seria mais benéfico a longo prazo, já que o satélite fornece condições ambientais estáveis. Conforme Stott, o custo de enviar e instalar um data center pequeno na Lua seria de US$ 5 milhões a US$ 6 milhões (de R$ 25 milhões a R$ 30 milhões).
Investimentos no futuro
"Uma das razões que nos levou a investir na Lonestar desde o princípio é que ela trabalha para incorporar a Lua ao sistema econômico global, que já começou a se expandir em direção ao espaço. E eles têm feito isso por meio de armazenamento de dados, que desde a pandemia se mostrou um segmento cada vez mais essencial para o aprimoramento dos modelos de trabalho que temos hoje", diz Luís Felipe Neiva Silveira, fundador e CEO da 2Future.
O executivo, que descreve a holding como uma investidora de "negócios do futuro", disse que não tem receio de investir em um negócio de alto risco, como é o caso da maioria das empresas na indústria espacial. Ele reconhece que, neste momento, os investidores estão mais cautelo