Tesouro paga R$ 260 bi nesta quinta; como reinvestir?
Segundo especialistas, a melhor opção é mesmo reaplicar na renda fixa. “Temos muita incerteza na macroeconomia e estrangeiro prefere não entrar na Bolsa, então seguimos bastante alocados em renda fixa”, diz Gabriela Joubert, estrategista chefe do Inter

Investidores de renda fixa aguardam com ansiedade a chegada de quinta-feira (15). O dia reserva o vencimento de títulos do Tesouro IPCA+ 2024 no montante de R$ 260 bilhões, entre juros e amortização. E o investidor que vai receber o pagamento do Tesouro tem que fazer o dever de casa para dar o melhor destino aos recursos.

Segundo especialistas, a melhor opção é mesmo reaplicar na renda fixa. “Temos muita incerteza na macroeconomia e estrangeiro prefere não entrar na Bolsa, então seguimos bastante alocados em renda fixa”, diz Gabriela Joubert, estrategista chefe do Inter.

Para se planejar, diz a especialista do Inter, o primeiro passo é ter clareza do objetivo para o investimento: “se estou pensando em aposentadoria, faz todo sentido travar a rentabilidade em uma taxa maior em títulos de longo prazo; para o curtíssimo prazo, pensamos em outras alternativas, mas precisa traçar um objetivo”. 

Depois, a leitura do cenário econômico atual é imprescindível para escolher ativos que combinem com seu perfil de risco e nível de otimismo com a melhor do ambiente. Fabricio Silvestre, analista da Levante, descreve um cenário otimista para os mais arrojados e outro conservador para quem dá ênfase aos riscos que se apresentam para os próximos meses. 

Arrojado

Primeiro, o investidor que aceita tomar mais risco e aposta na melhora da economia pode aproveitar o evento de liquidez para comprar títulos longos atrelados à inflação, como o Tesouro IPCA+ 2045, ou prefixados, também de vencimento a perder de vista, em 2031 ou 2035.

A estratégia está ancorada na perspectiva de cortes rápidos nos juros dos Estados Unidos. “Há dúvidas sobre a desaceleração da economia americana e se isso pode gerar reduções rápidas nos juros, o que seria benigno para a reprecificação desses títulos e geraria retorno adicional ao investidor”. 

Se essa hipótese se confirmar, o investidor que comprou títulos com remuneração prefixada veria as taxas caírem em alguns meses, enquanto os papéis que tem na carteira seguem com remuneração alta. Nesse cenário ideal, ele teria a opção de manter os títulos até o vencimento para garantir retornos altos por muitos anos ou ainda vendê-los e lucrar em pouco tempo com a marcação a mercado. 

“As janelas para investir em IPCA+6% não se abrem o tempo todo, então quanto mais o investidor puder alongar a duration, é melhor”, diz Rafael Winalda, especialista em renda fixa do Inter. Ele explica que, estatisticamente, o juro real de 6% pode enfrentar volatilidade em até 18 meses de alocação, mas investimentos que rompem essa barreira “praticamente não perdem dinheiro”. Duration é o tempo que o investidor leva para recuperar o dinheiro com juros.

Em geral, os papéis mais longos têm maior potencial de valorização porque são mais sensíveis às mudanças na curva de juros. Enquanto o mercado reduziu a expectativa de juros nos próximos anos, os títulos de longo prazo tiveram as maiores valorizações de julho

No entanto, o inverso também é verdadeiro: papéis com vencimentos longos também podem acumular quedas relevantes caso os juros subam. “Por mais que o investidor queira levar esses títulos até o vencimento, a probabilidade de precisar sair antes aumenta conforme o prazo sobe e ele pode ser mais penalizado”, pondera Silvestre. 

Conservador

Já o investidor conservador olha para a conjuntura atual e enxerga diversos riscos. O foco segue na desaceleração da economia dos Estados Unidos, que pode ser tão brusca a ponto de causar recessão. Nessa hipótese, o efeito seria o contrário do esperado pelo otimista: a aversão a risco aumentaria, tirando a atratividade dos mercados emergentes e fazendo os juros subirem; quem comprou títulos com juro real de 6% teria desvalorização da carteira caso o mercado pague mais.

Diante do horizonte nebuloso, Silvestre prefere a abordagem conservadora. “Sugiro manter o dinheiro em pós-fixados (Tesouro Selic), esperando mais dados para entender a dinâmica da economia americana e expectativas de inflação no Brasil”. Ele ainda argumenta que caso cenário melhore, como aposta o otimista, ainda será possível encontrar taxas atraentes. 

Os vencimentos para os conservadores são mais curtos. A ideia é fugir da volatilidade dos papéis de longo prazo. “O Tesouro IPCA+ 2029 paga, hoje, juro real de 5,99%, não é uma taxa ruim e não precisa ficar alocado por muitos anos”, diz o analista da Levante. 

O risco de encurtar a duração da carteira é de reinvestimento. “Se você fica muito focado no curto prazo, oportunidades como o IPCA + 6% passam e, no futuro, não vai dar mais para investir a essa taxa”, alerta Joubert.  (Portal InfoMoney)

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