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O cartão de crédito no país muitas vezes é o vilão das finanças pessoais. O principal motivo é a cobrança dos juros quando o consumidor paga a fatura mínima, o chamado “crédito rotativo". Neste caso, as taxas cobradas são muito altas. A Proteste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor) realizou um estudo para analisar os cartões de crédito no país e constatou que os juros praticados podem chegar a 875,25% ao ano. É o caso do cartão Trigg Gold, do Banco Omni, por exemplo.
Além dos juros altos, a Proteste destaca que as instituições financeiras não são transparentes com o consumidor ao informar sobre o Custo Efetivo Total (CET) que incidem em quatro serviços: pagamento rotativo, saque, parcelamento de fatura e da compra.
Segundo a Proteste, quando a entidade entrou em contato com as instituições financeiras, ela teve dificuldade em obter as taxas dos juros cobrados. A falta de clareza é desrespeito ao Código de Defesa do Consumidor (CDC) - de acordo com a legislação, ofertas de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas.
A associação conseguiu avaliar 87 cartões de 17 instituições. O cartão com a melhor avaliação foi do Banco Inter, Gold-Mastercard. Foram analisados a ausência de cobrança de anuidade, juntamente com os menores juros cobrados no rotativo. “Também partimos do princípio de que o cartão deve ser usado com moderação, para que o consumidor consiga pagar o valor total de sua fatura em dia, sem precisar entrar no rotativo e gastar dinheiro com juros", explica Rodrigo Alexandre, especialista da Proteste.
Assim como o Gold do Banco Inter, os cartões PAN Zero Anuidade, PAN Básico, Credicard Zero, Original Internacional, Nubank, Digio, Next e Cartão C6 também não possuem anuidade. Mas o cartão de crédito do Banco Inter se destacou por ter os juros mais baixos (143,55% ao ano, no rotativo).
"Já os cartões do Banco Pan apresentam a segunda taxa mais alta do nosso estudo, com 747,19% ao ano, no rotativo", afirma o especialista. Vale ressaltar que os juros que incidem nos outros serviços também são altos. Por exemplo: no parcelamento da fatura, maneira pela qual as pessoas fogem do rotativo (incorretamente), encontramos CET de até 621,38%, no PAN Zero Anuidade. "Por isso, esse cartão jamais pode ser usado de forma descontrolada e a fatura deve ser sempre paga totalmente até a data do vencimento", orienta Alexandre.
Versão digital é mais prática
Além de não cobrarem anuidade, o C6, o Next, o Digio, o Nubank e os dos bancos Inter e Original são cartões digitais, o que pode ser uma vantagem extra, dada a praticidade. "Tudo é feito por aplicativo, a contratação, o acompanhamento da movimentação, a geração do boleto e o pagamento da fatura. Mas precisa de smartphone e internet", esclarece Alexandre.
A Proteste destaca ainda que a isenção pode ser pegadinha, isso porque muitas vezes, a isenção só ocorre no primeiro ano. A partir do segundo, a tarifa pode ser alta, como nos casos do Santander Dufry Platinum (R$ 624) e do Original Platinum, do Banco Original (R$ 504). O mercado ainda oferece isenção sob algumas condições. O Banco do Brasil dá 12 meses de gratuidade aos clientes dos Ourocard Elo e Ourocard Elo Mais que aderirem ao Clube de Benefício do BB. Mas, a partir do segundo ano, cobra R$ 190 e R$ 352, respectivamente.
Já o Itaú não cobra anuidade aos usuários do Latam Pass Itaucard Internacional que gastarem R$ 1 mil por mês, no mínimo. Existem ainda as isenções da anuidade por determinados períodos. São exemplos os cartões Banrisul Standard, Banrisul Gold e Banrisul Platinum (todos da bandeira Mastercard), que não cobram os primeiros seis meses. A partir do sétimo mês, se o cliente usar o cartão de acordo com a política de desconto, pode continuar sem pagar a parcela mensal da anuidade do cartão. "
Saque gera custo
O levantamento destaca ainda que usar a função saque do cartão de crédito não é recomendada. A tarifa para este serviço varia de R$ 5 (C6 Bank) a R$ 18,80 (Santander), para cada saques nacional, e de R$ 14,25 (Losango) a R$ 50 (BV Financeira), para internacional.
Além disso, ao fazer uma retirada, o consumidor contrata um empréstimo e, portanto, ainda paga juros - nosso estudo encontrou CET de até 793,97% ao ano (cartão Banrisul Libre). "O melhor a fazer é nunca sacar com cartão de crédito. É melhor entrar no cheque especial por um ou dois dias, ou contratar um crédito consignado ou pessoal, se precisar de mais tempo para repor a quantia", aconselha Rodrigo.
Tarifas
A Proteste destaca ainda que as administradoras de cartão de crédito podem cobrar cinco taxas, para todos os tipos de cartão de crédito. São elas: tarifas para emissão de segunda via, para a função saque, para o uso de pagamentos de contas, para avaliação emergencial do limite de crédito e anuidade. Por exemplo, no estudo, a Proteste encontrou tarifas para o pagamento de contas que vão de R$ 4,90 (Banco Pan) a R$ 25,50 (Santander).
Mas há instituições que, mesmo autorizadas, não cobram algumas delas ou não oferecem um desses serviços - é preciso checar antes da contratação. O especialista chama atenção para os chamados "serviços diferenciados", como mensagem automática de aviso de movimentação e cartões personalizados, que também podem ser cobrados.
Anuidade
O mercado oferece dois tipos de cartão de crédito: o básico e o diferenciado. Ambos podem ser nacional ou internacional e valem para pagamentos de contas, compras ou serviços. A diferença é que o segundo possui programas de recompensas e benefícios (seguro-viagem, desconto na fatura, ingressos para cinema etc.) e o valor da anuidade é maior do que o cobrado no básico. Existem cartões de crédito para cada tipo de perfil, e com grande variação de tarifas. Pelos dados, o valor da anuidade pode variar de R$ 190 (Ourocard Elo/Banco do Brasil) a R$ 1.020 (Cartão C6 Carbon/C6 Bank). "Por isso que sempre consideramos a melhor opção o produto livre dessa tarifa", reforça Rodrigo.
Rotativo
Uma resolução do Banco Central estabeleceu, em 2017, que o consumidor só pode pagar o mínimo da fatura (o chamado pagamento rotativo) do cartão apenas uma vez. No mês seguinte, o valor total deve ser quitado ou parcelado, conforme proposta do banco. Neste caso, a taxa de juros tem de ser sempre menor do que a cobrada no rotativo. "É importante ressaltar que esse parcelamento geralmente envolve longos prazos e que os juros, embora menores, podem continuar sendo altos em comparação a outras linhas de crédito disponíveis, já que as taxas do rotativo são as maiores do mercado. Encontramos CET de até 875,25% ao ano, no cartão Trigg", alerta Rodrigo.
(Karla Mamona)