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Apesar das recentes valorizações do dólar, a perspectiva internacional mais favorável neste ano deve prevalecer e impactar positivamente o real.
"Nos últimos dois anos e meio, debatemos até onde os juros nos Estados Unidos subiriam e quais seriam as consequências recessivas, e agora estamos diante de um ambiente significativo de desinflação. Isso tem possibilitado a discussão sobre a redução das taxas de juros nos EUA, mantendo uma atividade econômica satisfatória", destaca Bruno Marques, sócio e cogestor dos fundos multimercado da XP Asset Management.
O profissional enfatiza que, embora dados econômicos robustos dos EUA no curto prazo possam favorecer o dólar, devido à menor expectativa de cortes de juros imediatos, a previsão para o ano é o início da flexibilização da política monetária pelo Federal Reserve (Fed), tornando-o um período mais positivo para ativos de risco. "Isso não significa que será um movimento linear. De toda forma, mantemos o otimismo em relação ao real."
A XP Asset aproveitou o final do ano passado, durante a saída sazonal de dólares pelo fluxo financeiro, para aumentar a posição comprada em reais, conforme Marques informa. Além da expectativa de um cenário externo favorável, ele destaca os sólidos números das contas externas do ano passado, um desempenho positivo que se espera repetir em 2024. "Ao analisar a balança comercial, houve uma mudança significativa. Ela evoluiu de um superávit em torno de US$ 60 bilhões para algo entre US$ 85 bilhões e US$ 100 bilhões."
Em relação ao estreitamento do diferencial de juros, Marques considera a situação atual diferente da observada em 2018, durante o último ciclo de flexibilização monetária no Brasil. "Embora o menor diferencial de juros naquela época tenha prejudicado o real, outros fatores contribuíram para a desvalorização, como a recomposição do balanço da Petrobras, que comprou dívidas externas e enviou quase US$ 40 bilhões para o exterior", explica o gestor, mencionando também o "overhedge" dos bancos. "Havia um fluxo de saída que não estava relacionado ao diferencial de juros, e agora não enfrentamos essa situação. Isso significa que voltaremos a ter juros tão baixos? Não, mas com um ambiente externo mais favorável, podemos ter uma Selic em 8%."
A XP Asset não enxerga grandes preocupações fiscais para este ano, mas sim a longo prazo. "Provavelmente iremos revisar para baixo nossa projeção de déficit fiscal este ano, mas isso não é positivo, pois o que está acontecendo é uma antecipação de receitas futuras para o presente", explica Marques. Segundo ele, o problema fiscal geralmente ganha destaque quando há restrições externas, de crescimento ou inflação. "Este ano, não temos isso no horizonte: ainda temos um saldo externo muito positivo, um processo de desinflação em curso e um crescimento bastante razoável", afirma. "Enquanto não houver pelo menos duas dessas três restrições presentes, a questão fiscal permanece disfarçada."
Quanto à influência da China no desempenho do real, o gestor da XP Asset vê um impacto mais negativo para a moeda brasileira. "A economia chinesa está enfraquecida e os estímulos do governo são limitados. Não há muito mais a ser feito devido às restrições fiscais", explica Marques. Além do peso dos preços das commodities, a China contribui negativamente para o desempenho do real (e até mais na bolsa) por ser considerada parte do mercado emergente. "Dentro do grupo de países emergentes, a China tem o maior peso. Quando os investidores olham para lá e percebem a situação desfavorável, entendem que não é o momento de investir em mercados emergentes. Isso prejudica bastante, mas acredito que já está refletido nos preços."