Economia

Peso argentino tem o melhor desempenho no mundo

O fortalecimento do peso impulsionou a popularidade do presidente libertário Javier Milei, mas economistas questionam a sustentabilidade dessa política

Em 2024, o peso argentino foi a moeda que mais se valorizou no mundo em termos reais, com um aumento de 44,2% em relação a uma cesta de moedas dos principais parceiros comerciais. Esse resultado supera com folga a valorização de 21,2% da lira turca, segundo dados ajustados à inflação do Banco de Compensações Internacionais (BIS), analisados pela consultoria argentina GMA Capital. O fortalecimento do peso impulsionou a popularidade do presidente libertário Javier Milei, mas economistas questionam a sustentabilidade dessa política, que mantém os preços de bens e serviços elevados no país.

A valorização do peso se refletiu em mercados paralelos, onde muitos argentinos compram dólares devido ao acesso restrito ao câmbio oficial. Como resultado, o salário médio em dólares quase dobrou, alcançando US$ 990 entre dezembro de 2023 e outubro de 2024. Apesar do alívio para a população, essa política tem um custo elevado: o Banco Central da República Argentina (BCRA) enfrenta dificuldades para reconstruir suas reservas internacionais, gastando dólares para sustentar a força do peso. Em dezembro, o BC argentino vendeu US$ 599 milhões em um único dia, a maior quantia desde 2019, para atender à demanda por dólares da indústria automotiva e outras importadoras após a eliminação de impostos sobre importações.

O programa de estabilização de Milei tem recebido elogios pela contenção da desvalorização cambial, mas analistas alertam para os riscos de uma desvalorização repentina. Com o real brasileiro em queda e a possível implementação de tarifas de importação pelos Estados Unidos sob a gestão de Donald Trump, a Argentina pode enfrentar choques externos que pressionariam ainda mais sua economia. “A valorização do peso é o maior risco daqui para frente”, afirmou Ramiro Blázquez, chefe de análises do BancTrust. Ele ressalta que uma alta repentina na demanda por dólares baratos pode desencadear uma crise cambial.

Milei, economista de formação, defende que a Argentina pode competir globalmente com desregulamentação econômica, redução de impostos e melhor acesso ao crédito. Ele também aposta no potencial das exportações de lítio, petróleo e gás de xisto para aliviar a escassez de moeda estrangeira nos próximos anos. No entanto, economistas como Martín Rapetti, do centro de estudos Equilibra, acreditam que sustentar o atual patamar do peso além de 2025 será “altamente improvável”. Rapetti aponta que, com o peso tão valorizado, o país historicamente não consegue gerar superávits comerciais suficientes para reabastecer suas reservas.

A redução da diferença entre as taxas de câmbio oficial e paralela, que caiu de 200% para menos de 20% em 2024, reforçou a confiança na política de Milei. Medidas como permitir que exportadores convertam parte de seus ganhos em dólares no mercado paralelo legal também ajudaram a estabilizar o câmbio. Essa sensação de estabilidade tem agradado à classe média argentina, permitindo viagens ao exterior e aumentando o poder de compra, mas os desafios para manter esse cenário são significativos.

O verdadeiro teste para o peso argentino virá com a prometida transição para um câmbio flutuante até o final de 2025. Nicolás Dujovne, ex-ministro da Economia da Argentina, acredita que a força do peso pode ser mantida com reformas fiscais rigorosas, mas alerta para os riscos de uma perda de confiança no programa de Milei. “A cada dia, o jogo que estamos jogando se torna mais exigente”, afirmou.

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