As vendas no varejo brasileiro registraram retração em novembro, com resultados abaixo das expectativas, mesmo com o impacto positivo da Black Friday. De acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) divulgada pelo IBGE, o varejo restrito, que exclui segmentos como veículos, motos e material de construção, apresentou queda de 0,4% em relação a outubro. Já o varejo ampliado, que inclui esses segmentos, recuou 1,8%, influenciado por uma expressiva retração nas vendas de veículos (-7,6%) e no atacarejo de alimentos, bebidas e fumo (-11,7%).
Economistas avaliam que a queda reflete um ajuste após o desempenho robusto observado ao longo de 2024, mas também pode ser o primeiro sinal de um arrefecimento mais amplo no setor diante das incertezas econômicas previstas para 2025. Apesar do recuo mensal, o varejo restrito acumulou alta de 5% nos 11 meses de 2024, enquanto o varejo ampliado avançou 4,4% no mesmo período.
Para Geórgia Veloso, economista do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (FGV Ibre), o desempenho de novembro, embora negativo, não apaga o bom resultado do setor em 2024. Ela aponta que o mês foi marcado por feriados, o que pode ter impactado as vendas, e prevê números melhores em dezembro devido ao impulso das vendas de fim de ano. No entanto, Veloso destaca que 2025 traz desafios significativos, como inflação em alta, pressão cambial e incertezas fiscais, que geram pessimismo entre empresários e podem limitar o consumo.
Essa perspectiva é compartilhada por Rodolfo Margato, economista da XP, que vê os dados de novembro como um indício de que o melhor momento do varejo pode ter ficado para trás. Ele observa que o recuo de 1,8% no varejo ampliado eliminou os ganhos acumulados nos dois meses anteriores, especialmente em segmentos mais sensíveis ao crédito, que caíram 4,7% após um avanço de 5,6% em outubro. Margato projeta um crescimento mais moderado de 2% no PIB em 2025, em comparação aos 3,6% registrados em 2024, apontando que a combinação de inflação elevada, condições financeiras mais restritivas e menor impulso fiscal deve enfraquecer as vendas varejistas ao longo do ano.
A análise da Genial Investimentos reforça o diagnóstico de desaceleração econômica, destacando que cinco das oito categorias pesquisadas pelo IBGE recuaram em novembro. A gestora atribui parte da fraqueza no consumo ao movimento de antecipação da Black Friday, que concentrou promoções em outubro, mas também enfatiza os impactos do cenário macroeconômico, com pressões inflacionárias e fiscais afetando as expectativas para 2025.
Além disso, setores como material de construção, que vinham registrando crescimento, interromperam a sequência de altas com um recuo de 1,4% em novembro. Margato observa que as vendas de veículos, apesar da queda no mês, ainda acumularam crescimento de 12% em 2024, impulsionadas por concessões de crédito. No entanto, ele alerta que o cenário de juros elevados e menor impulso fiscal deve limitar novos avanços.
Com o mercado de trabalho ainda aquecido e a renda das famílias em alta, alguns fatores positivos permanecem, mas o equilíbrio entre forças opostas gera incerteza para 2025. A combinação de inflação crescente, juros elevados e pessimismo fiscal cria um ambiente de cautela tanto para consumidores quanto para empresários. Apesar de 2024 ter sido um ano positivo para o varejo, os dados de novembro sugerem que o setor pode enfrentar uma trajetória mais desafiadora no próximo ano, com crescimento mais moderado e maior volatilidade. As próximas leituras econômicas serão cruciais para confirmar essa tendência e guiar as expectativas para a economia brasileira.