O real mantém uma trajetória de valorização surpreendente neste ano, com o dólar recuando 10,60% até agora e encerrando a última semana cotado a R$ 5,5248. No início de 2025, com a moeda americana acima de R$ 6, poucas instituições previam um movimento tão intenso no câmbio. Agora, com o dólar pressionado globalmente e o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos ampliado, analistas projetam que a taxa de câmbio deve se manter em níveis mais apreciados, ainda que ganhos adicionais mais expressivos pareçam limitados no curto prazo.
A decisão do Banco Central de elevar a Selic para 15% reforçou a expectativa de valorização do real, movimento que chegou a ocorrer no início do pregão de sexta-feira (20), mas foi revertido ao longo do dia com alta do dólar. Segundo um trader de tesouraria, esse ajuste foi técnico, motivado pela busca de proteção (hedge) antes do fim de semana, em razão das tensões no Oriente Médio.
Entre as instituições que mantêm uma visão otimista para o real está o Société Générale, que projeta dólar a R$ 5,20 no fim de 2025, podendo atingir R$ 5,00 no primeiro trimestre de 2026. O banco destaca a postura firme do Copom, uma economia doméstica relativamente saudável e a continuidade do fluxo global de diversificação de ativos como fatores de apoio à moeda brasileira. Apesar do otimismo, o banco francês não tem recomendações abertas em ativos brasileiros no momento.
O Bank of America também revisou sua projeção para o câmbio, estimando o dólar em R$ 5,50 no fim do ano. O banco mantém posição vendida em dólar contra o real, com alvo em R$ 5,00, baseando-se no forte desvio de valuation da moeda brasileira em relação às demais da América Latina no início do ano.
A fraqueza do dólar no cenário internacional também favorece o desempenho do real. O índice DXY, que mede a força da moeda americana frente a uma cesta de divisas fortes, acumula queda de 8,95% em 2025. O diferencial de juros elevado e as medidas do Banco Central brasileiro para reduzir distorções no mercado de câmbio têm incentivado operações de carry trade, como aponta Teresa Alves, estrategista do Goldman Sachs. Ela destaca que a postura “hawkish” do Copom, com manutenção da Selic elevada por um longo período, deve seguir sustentando o real frente a outras moedas emergentes.
Mesmo com a estabilidade atual, o mercado começa a precificar riscos associados à eleição presidencial de 2026. A queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde janeiro já se reflete nos preços dos ativos. O BTG Pactual mantém sua estimativa de dólar a R$ 5,60 no fim de 2025 e R$ 5,50 em 2026, mas reconhece que o cenário é binário. Em um ambiente de responsabilidade fiscal, a moeda poderia se valorizar até R$ 4,80. Já em um cenário de descontrole das contas públicas, o real poderia se depreciar até R$ 7,00 por dólar.
O Wells Fargo também passou a considerar a eleição como ponto de inflexão. Segundo o estrategista Brendan McKenna, o real tende a ser a moeda mais volátil da região à medida que a corrida eleitoral se aproxima. Ele projeta que o presidente Lula pode recorrer a medidas de estímulo fiscal, o que aumentaria a incerteza e a pressão sobre o câmbio. Ainda assim, o banco revisou sua projeção para o dólar no fim de 2025 de R$ 5,70 para R$ 5,40. Para o terceiro trimestre de 2026, a expectativa é de R$ 5,90, abaixo da estimativa anterior de R$ 6,30.
Apesar do pessimismo no médio prazo, o Wells Fargo acredita que um novo governo com postura fiscal mais responsável pode recuperar a confiança dos investidores e promover a estabilidade da moeda brasileira no longo prazo.